São Paulo (SP) - Cada vez mais consolidada como tenista de alto nível, Beatriz Haddad Maia já se sente mais respeitada no ambiente do circuito e acredita que isso é de fundamental importância para que sua voz seja mais ouvida fora das quadras. Atual número 13 do mundo, Bia é uma das três sul-americanas no top 100 do ranking, juntamente com a colombiana Camila Osorio e a argentina Nadia Podoroska e espera que seus resultados influenciem novas gerações de jogadoras brasileiras e sul-americanas.
"O que eu posso fazer no momento pelo tênis no Brasil e na América do Sul é através da minha raquete", disse Bia a TenisBrasil, durante encontro com jornalistas nesta quarta-feira em São Paulo. "Por enquanto ainda estou criando a minha imagem e minha força. Agora que o circuito começou a me respeitar também. É diferente você ser uma brasileira de uma norte-americana ou europeia. As relações, os caminhos e as culturas são diferentes. Ainda tenho que trabalhar muito dentro de quadra para ter voz fora dela".
"Tenho o objetivo de tentar ajudar as meninas do Brasil e da América do Sul terem mais oportunidades. Se eu for pensar na minha carreira, dá para contar numa mão só o número de torneios da WTA ou challenger que eu joguei na América do Sul. Se a gente for comparar com o número de torneios do masculino, a diferença ainda é muito grande", acrescentou a paulistana de 27 anos, ratificando o desejo por mais torneios na região.
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Inspiração em Azarenka e Jabeur
Uma das principais fontes de inspiração para Bia é Victoria Azarenka, sua parceira de duplas na conquista do WTA 1000 de Madri e também nos dois últimos Grand Slam, Roland Garros e Wimbledon. Azarenka, de 33 anos, é ex-número 1 do mundo e bicampeã do Australian Open, mas também tem uma voz atuante no Conselho de Jogadoras da WTA e teve influência em decisões que ajudaram no aumento das premiações em dinheiro para jogadoras de ranking mais baixo e oferecendo melhores condições também para tenistas que já são mães que queiram retomar a carreira. Em maio, Bia e Azarenka foram campeãs de duplas no WTA 1000 de Madri, mas impedidas de discursar na cerimônia de premiação, assim como as vice-campeãs, Coco Gauff e Jessica Pegula.
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"A Vika é uma pessoa muito poderosa no tênis, tanto dentro da quadra como fora. Dá para ver que ela tem uma imposição moral, não só pelo tênis que ela joga, mas também pela forma como ela se porta e como ela se comunica com as jogadoras. É uma pessoa que eu admiro muito por querer ajudar as outras. Se ela quisesse, poderia pensar só no umbigo dela porque é alguém que já foi número 1, ganhou Grand Slam e ganhou muito dinheiro no tênis. Então admiro esse lado dela de empatia e de buscar melhores condições para as tenistas que estão vindo e também a igualdade de gênero, o que para mim é o mínimo. Foi o que aconteceu em Madri. A gente não está lutando para ter mais que ninguém, está lutando por direitos iguais. Ela tem papel fundamental e uma pessoa que me inspira muito".
Outra jogadora que serve de exemplo para Bia é a tunisiana Ons Jabeur, atual sexta colocada no ranking, e uma das amigas que a brasileira tem no circuito. Jabeur fez história para as mulheres árabes e africanas, chegando a três finais de Grand Slam nos últimos anos. "A Ons é uma pessoa muito especial para o tênis, principalmente para o tênis feminino. Ela consegue unir um pouco esse lado mais humano e divertido, mesmo sendo extremamente competitiva dentro da quadra. Mesmo assim é possível criar um vínculo e uma amizade fora. É uma pessoa muito forte, por vir de um país que não tem tradição do tênis, e já fazer três finais de Grand Slam. Ela já falou comigo sobre isso, porque aqui no Brasil também não tínhamos muitas jogadoras no alto nível. Ela se identifica também pro esse lado. A gente é parecida em relação a isso".
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Bia também falou sobre a convivência com as melhores do mundo nos bastidores so circuito. "O ambiente é competitivo. Todo mundo está ali trabalhando. A maior parte do tempo cada uma está com sua equipe e com sua família. Tenho boa relação com a maioria das meninas. Sou uma pessoa bem aberta para conversar, independente de qual é o ranking da jogadora. Eu sempre cumprimento. O respeito e a educação eu trouxe da minha casa. E não é agora que vou mudar. E isso não só com as jogadoras, é com todas as pessoas que envolvem o circuito e trabalham no circuito".
"Tem jogadoras que eu consigo sentir essa leveza. A [Belinda] Bencic às vezes me chama de 'sister'. Ela me disse que já foi chamada de 'Bia' nos torneios. E também já me pediram autógrafo me chamando de 'Belinda'. Ela e a equipe são pessoas muito bacanas. A [Petra] Kvitova também é muito gentil com todas as pessoas que a ajudam nos torneios. Algumas jogadoras são mais fechadas, mas também respeito isso. A gente nunca sabe a história pessoal de cada uma e nem o que ela está passando naquele dia. Tento entender o lado delas e continuo sendo a Bia".