Primeira brasileira a conquistar um título de Grand Slam no tênis em cadeira de rodas, Jade Lanai trouxe maior exposição para a modalidade desde as vitórias no torneio juvenil do US Open em 2022. A brasiliense de 19 anos fechou da melhor maneira possível seu ciclo nas categorias de base e já define as primeiras metas no tênis profissional.
Atual 39ª colocada no ranking feminino da ITF, duas posições abaixo de seu recorde pessoal, Jade tenta se colocar na zona de classificação para os Grand Slam e também para os Jogos Paralímpicos de Paris. Este ano, senti que tenho um nível que posso ser um pouco mais ousada e entrar em chaves de torneios maiores que dão mais pontuação e experiência de enfrentar jogadoras melhores. E acredito que, conseguindo entrar e conseguindo apoio, eu fico cada vez mais perto de numa chave de Grand Slam”, disse a TenisBrasil, durante a Billie Jean King Cup, em Brasília.
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“É um objetivo para até o final do ano que vem jogar um Slam. Ou pelo menos somar pontos para entrar nas chaves em 2025, agora como profissional”, avaliou a brasiliense. “Em relação às Paralimpíadas, para classificar direto você precisar estar entre as 27 do mundo. “Acredito que a gente no Brasil tem um cenário que pode conseguir levar as quatro, mas pensando em pelo menos duas com classificação direta, as chances aumentam”.
Os bons resultados e conquistas recentes do tênis feminino no Brasil, liderados por Beatriz Haddad Maia, Laura Pigossi e Luísa Stefani, também servem de inspiração. “Acho que a gente nunca teve tantas jogadoras ao mesmo tempo tão bem ranqueadas e tão fortes, tecnicamente e mentalmente. Todas elas, além de serem atletas incríveis, são pessoas muito legais e que têm uma troca muito boa com a gente. Acho que a gente tem que aproveitar essa fase que as meninas estão e dar cada vez mais visibilidade e apoio”.
Confira a entrevista com Jade Lanai.
O que mudou na sua vida desde a conquista do US Open, em termos de visibilidade, de estrutura e de amadurecimento pessoal também desde o US Open pra cá?
Acho que o US Open veio em boa hora para fechar o meu ciclo no juvenil e também foi um bom começo para o profissional, mostrou que eu estava bem encaminhada e me deu muita motivação para estabelecer metas e realizar sonhos. Então, acredito que foi muito importante para mim nesse início e faz diferença em tudo o que eu participo, porque levo comigo esse título e o reconhecimento. E acredito que em termos de visibilidade, o tênis em cadeira de rodas começou a ser mais visto. E assim como a gente vem falando mais do tênis feminino com as que estão agora na Billie Jean King Cup, o público começou a ouvir nossos nomes. Isso foi muito incrível para mim, e com certeza para o restante das meninas. Eu fico feliz de ser uma das pessoas que colocou o tênis em cadeira de rodas em evidência.
Você alcançou o maior ranking de sua carreira, o 37º lugar, e foi sua primeira temporada exclusivamente voltada ao profissional. Como você avalia esse ano? Para um primeiro ano de profissional, acredito que foi muito bom. Acredito que consegui cumprir muitas das metas e expectativas que eu tinha para esse ano. É importante para todo atleta estabelecer metas. E ver agora, na reta final, que o trabalho da minha equipe continua dando resultados e que consegui atingir esses objetivos vai me ajudar muito para os sonhos que tenho para o ano que vem.
Para entrar em um Grand Slam no tênis em cadeira de rodas é um caminho árduo, porque são torneios que dão muitos pontos, mas as chaves são pequenas. É difícil se meter ali dentro, porque esses tenistas que já estão lá e somam pontos lá e te travam de subir. O que você precisa fazer para conseguir esses pontos para poder entrar nessas chaves? Até destacar que o US Open agora aumentou um pouco a chave e dá mais abertura.
Dos quatro Grand Slam, o US Open é o que está dando mais oportunidade para os tenistas em cadeira de rodas, mas mesmo assim é um grupo bem seleto e a gente não tem quali. Então é tudo mais difícil. Mas já senti esse ano que tenho um nível que posso ser um pouco mais ousada e entrar em chaves de ITF 3 e ITF 2.
Tenho boas pontuações de future para entrar em torneios maiores que dão mais pontuação e experiência de enfrentar jogadoras melhores. E acredito que, conseguindo entrar e conseguindo apoio, eu fico cada vez mais perto de numa chave de Grand Slam. É um objetivo para até o final do ano que vem jogar um Slam. Ou pelo menos somar pontos para entrar nas chaves em 2025, agora como profissional.
Hoje falando no tênis em cadeira de rodas, principalmente no feminino, é impossível não pensar na Diede De Groot, que ganhou 12 Grand Slam seguidos, domina o circuito e está há muitos anos sem perder. Você já teve algum contato, alguma troca de experiência com ela ou com outras jogadoras desse nível?
Eu já tive a oportunidade de encontrá-la e de tirar uma foto com ela num mundial. É um campeonato que a gente tem contato com essas jogadoras de nível altíssimo. Já tive a oportunidade de vê-la jogando e também os treinos. É muito interessante ver todo o preparo que ela faz.
Tive um contato mais próximo com a Yui Kamiji, japonesa que é número 2 do ranking. Algumas pessoas que trabalham na equipe multidisciplinar dela estiveram com a seleção brasileira durante um tempo. Eles trouxeram todo o programa dela para a gente. E no US Open eu pude assistir a um jogo dela ao lado deles e pude notar coisas que normalmente eu não observo. E conversando com alguém que é de dentro, a gente passa a observar e entender. Então são duas jogadoras que eu realmente me espelho e gosto de acompanhar. Acho que são duas jogadoras que eu me espelho.
As inglesas também são muito fortes, principalmente a Lucy Shuker [atual 12ª do ranking]. Tive a oportunidade de jogar conta o time do Reino Unido no Mundial e tive contato mais próximo com ela. Acho que tanto a Kamiji quanto a Shuker são as minhas principais referências, principalmente por questão de lesão. A Diede é referência de muita coisa tecnicamente, mas tem uma lesão muito diferente da minha. Mas a Kamiji e a Shuker já têm uma deficiência parecida com a minha e mostram onde eu posso chegar.
Como estão as expectativas para o Parapan em Santiago e também para conseguir uma vaga nos Jogos Paralímpicos de Paris?
Vou estar muito na torcida pelas meninas no Parapan, porque a gente tem grandes chances de medalha. As nossas duas meninas que vão, a Meirycoll Duval e a Maria Fernanda Alves, são fortes candidatas e estão entre as favoritas. Elas formam uma dupla muito forte e a gente pode esperar por medalhas, sim. Estou muito feliz por elas e espero estar com o time na próxima edição.
Em relação às Paralimpíadas, para classificar direto você precisar estar entre as 27 do mundo. Elas entram direto na chave. E para puxar mais uma, teria que esperar um convite. Acho que o Brasil tem grandes chances de levar pelo menos duas tenistas para os Jogos de Paris.
Para vocês também tem o limite das quatro por país, igual nas Olimpíadas, ou o número muda?
Para a gente o limite também são quatro jogadoras. Acredito que a gente tem um cenário que pode conseguir levar quatro, mas pensando em pelo menos duas com classificação direta, as chances aumentam. Hoje a Meirycoll é a número 1 do Brasil e 29 do mundo. Depois dos últimos resultados, eu virei número 2 e a Maria Fernanda está bem próxima, é 43ª do mundo. Então todas nós estamos muito próximas e num momento parecido.
E para fechar, gostaria que você comentasse sobre o momento do tênis feminino no Brasil, principalmente com a Bia, a Luísa e a Laura conquistando títulos importantes.
Acho que nós temos um dream team na Billie Jean King Cup. A gente nunca teve tantas jogadoras ao mesmo tempo tão bem ranqueadas e tão fortes, tecnicamente e mentalmente. É incrível a gente ter tanta representatividade e referências para a gente. Todas elas, além de serem atletas incríveis, são pessoas muito legais e que têm uma troca muito boa com a gente. Acho que a gente tem que aproveitar essa fase que as meninas estão e dar cada vez mais visibilidade e apoio.