Na verdade, o fenômeno Guga foi um fato isolado, fruto unicamente de seu talento e do brilho de seu treinador, jamais resultado de um trabalho planejado, inteligente, pronto para revelar novos tenistas de ponta. Mesmo porque este trabalho não existe e nunca existiu.
As causas apontadas que nos levam a "não sair do lugar", sobejamente conhecidas e discutidas, são as mais variadas: despreparo e amadorismo dos dirigentes, em alguns casos resvalando para a improbidade, falta de investimentos públicos e privados por conta deste amadorismo, um maior aprimoramento por parte de professores e treinadores e tantas outras que revelam que o tênis no Brasil, nos aspectos diretivos, planejamento e investimentos, comparativamente com os grandes centros, é amador.
Na minha ótica, existe outro fator, de fundamental importância, pouco ou quase nunca mencionado quando o assunto é o apontamento das causas que fazem nosso tênis ser de segundo escalão (quase terceiro) no que se refere à revelação de jovens com possibilidade de tornarem-se profissionais com sucesso, quando comparado aos grandes centros. Refiro-me à maneira absolutamente descompromissada com a evolução técnica da criança por parte da grande maioria dos clubes e academias. O ensinamento ou treinamento vem transformando-se apenas em uma recreação, para preencher o tempo ou para, segundo os pais, a criança "fazer algum esporte e sair da frente do computador".
São crianças que lotam as quadras dos clubes, aulas com grande número de alunos quase sempre heterogêneos nos aspectos envolvendo interesse, atenção, dificuldades, virtudes e deficiências. Qualquer tentativa por parte do professor de corrigir, orientar, ensinar é meramente superficial, pela necessidade de dar atenção ao grupo. E se alguma se destaca com algum talento, necessário seria buscar um aperfeiçoamento individual, fato na maioria das vezes inviabilizado por estar fora das possibilidades financeiras da família. E esta criança, provavelmente, breve desistirá do tênis pela impossibilidade de evolução.
Os clubes, outrora celeiros na revelação de jogadores, hoje priorizam o aspecto social, atendendo muito mais uma vocação recreativa, relegando a formação competitiva, quando ela existe, a um segundo plano. Claro, mais sócios, mais receitas. E a vocação recreativa torna-se necessária para atender a um número considerável de tenistas que estão retornando aos clubes, após freqüentarem as academias. Mas isto será motivo de outra matéria.
Claro que nesse processo não há "culpados". Os clubes priorizam o maior número de associados, razão de sua sobrevivência, e os professores, mesmos os idealistas, acomodam-se a esta situação.
É necessário que os encarregados de "pensar" o tênis no Brasil atentem para esta situação. Providências como investimentos, planejamento, reciclagem dos métodos de ensinamento e outras são indiscutivelmente importantes. Mas tornar-se-ão desnecessárias sem a "matéria prima" representada pelas crianças com possibilidades de se tornarem bons jogadores, quiçá profissionais. E estas crianças sempre apareceram nos clubes e academias. Caso contrário, novos valores... Muito difícil.
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