Certa vez, ao cumprimentar um amigo que acabara de vencer um jogo duríssimo, comentei: "Parabéns, mas acredito que você teria vencido mais fácil se não atacasse tanto o lado esquerdo do adversário, pois como canhoto, o forehand dele é mais forte". Ele arregalou os olhos e para meu espanto respondeu-me: "Ele é canhoto? Não percebi!". Pode parecer incrível, mas ele havia jogado mais de duas horas e não percebera que o adversário era canhoto!
De outra feita, disse a um aluno durante uma aula: "Sua bola está curta. Você não notou como está ventando hoje?" Ele, meio sem jeito, respondeu: "Acho que estava distraído, pois não percebi." Ele esquecera as explicações que eu já dera a respeito de estar atento na influência do vento, contra, a favor ou lateral, na potência do golpe e aproximação da bola.
Os casos citados são exemplos do que ocorre com a grande maioria dos amadores, que é a incapacidade, seja por desconhecimento ou distração, de "ver" e "pensar" o jogo.
Todos que jogam um tênis de competição, seja um simples jogo com o amigo nos finais de semana, participando de rankings e torneios nos clubes e academias ou mesmo em competições oficiais federadas, já devem ter perdido um ou mais jogos não pela superioridade do adversário, mas sim pela própria incapacidade de focar a atenção em pequenos detalhes. Que podem fazer a diferença em vencer ou perder um jogo.
Esta capacidade de atenção e concentração é que dará condições de o tenista usar a arma que, na maioria dos casos, é a grande responsável pelas vitórias: a elaboração e execução de uma estratégia de jogo.
Na matéria "Vamos aprender a vencer - Parte 2", ressaltei a importância da estratégia no sucesso de um jogo. O domínio dos fundamentos, o bom condicionamento físico, a coragem, a determinação, podem não levar à vitória se não houver uma estratégia de jogo.
Mas o que é a tal da estratégia aplicada ao tênis? Entre outras definições, a estratégia é "a arte de aplicar os meios disponíveis ou explorar condições favoráveis com vista a objetivos específicos." (Aurélio). Resumindo: Para vencer um jogo, é necessário detectar e explorar os pontos fracos do adversário.
Se perguntarmos a jogadores que estão "apanhando" dos amigos nos finais de semana, quais os pontos vulneráveis de seus adversários, acredito que pouquíssimos dariam uma resposta imediata e satisfatória. Julgam que concentração e planejamento para vencer é coisa para profissionais. Para o amador basta bater na bola...e pronto! Ao final do jogo, mais uma derrota a ser digerida.
Para começar a mudar este estado de coisas, comece a tomar algumas atitudes. Se para o próximo jogo você já conhece o adversário, faça uma análise do que você já sabe do jogo dele. Relembre os pontos fortes e os vulneráveis. Observe o seu comportamento quando está em vantagem ou desvantagem e verifique que atitudes pode tomar para desestabilizá-lo dentro das regras, é claro. Feito isso, trace uma estratégia sabendo que poderá ter que alterá-la, se necessário.
Caso o adversário seja desconhecido, use o bate-bola de aquecimento para descobrir pontos falhos. Lance bolas na direita, esquerda, com e sem peso, longas e curtas. Atente para aquilo que incomode o adversário e a partir daí trace uma estratégia inicial. Sempre lembrando que deverá alterá-la se não obtiver o resultado esperado.
Tenha sempre na lembrança que o tênis é um esporte mental. A técnica e a condição física reagem de acordo com suas condições mentais e emocionais. Por isso, doravante, ao invés de queixar-se do forehand, backhand, saque, voleio, etc, por perder continuadamente do amigo no fim de semana ou nos torneios que andam participando, verifique como está seu nível de atenção, concentração no jogo e, principalmente, se joga com inteligência, com uma estratégia de jogo.
Caso contrário, ao sair da quadra amargando mais uma derrota, talvez nem saberá dizer se jogou contra um destro ou um canhoto.
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