Instrução | Equipamento
Cordas, tensões e truques dos profissionais
Por Fabrizio Tivolli
03/02/2017 às 10h47

Fabrizio Tivolli fez parte da equipe de encordoadores do Australian Open

Saudações amantes do tênis!  A nova matéria da coluna de equipamentos não poderia vir em melhor hora e com mais estilo. Acabei de vivenciar um dos maiores Grand Slam de todos os tempos, com direito a Fedal na final!

Porém para mim o torneio significou algo ainda mais especial: fiz parte da equipe de encordoadores top mundiais da Yonex, que foi a responsável pela sala de encordoamento do Aberto da Austrália. Trabalhar com os melhores encordoadores do mundo para os melhores jogadores em um Grand Slam é algo praticamente inédito para um brasileiro. Na verdade, é a segunda vez que isso ocorre na história.

Como curiosidade, o Yonex Stringing Team reuniu em Melbourne  aproximadamente 20 dos melhores encordoadores de várias partes do mundo. Utilizando máquinas de última geração da marca japonesa, foram encordoadas  nada a menos do que 5.460 raquetes em aproximadamente três semanas de torneio, o que foi o recorde mundial de raquetes encordoadas em um único evento! 

Quem acompanha a coluna desde seu início em 2007, sabe que já fui encordoador oficial de diversos eventos ATP no Brasil, porém, quando se trata de um Grand Slam muitas particularidades mudam. A quantidade de raquetes com que lidamos é bem maior, proporcionalmente à exigência dos jogadores com relação ao equipamento e nível do encordoamento; e todos detalhes podem fazer a diferença nesse universo tão competitivo. 

Mas vamos ao que interessa! Todos querem saber o que está sendo tendência entre os profissionais, o que está sendo usado e o que está sendo evitado e, principalmente, como podemos tirar proveito dessas informações tão valiosas dentro de nossas quadras e de nosso próprio jogo, não é mesmo? Então vamos lá! 

O mais legal de ter acompanhado de perto o circuito, trabalhando em torneios profissionais 10 anos atrás e analisando um grande torneio de hoje, como o Australian Open, é fato de que os jogadores amadores em geral sempre tentam adaptar os equipamentos dos pros para seu jogo. Essa analogia é normal e sempre existiu, porém é fato que hoje os profissionais estão encarando seu arsenal de uma maneira bem diferente de uma década atrás. O tipo de jogo mudou muito; com ele, a exigência física dos tenistas e com isso a profunda necessidade de trazer os equipamentos como importantes aliados no nível de competitividade e principalmente para evitar lesões. 

Em termos práticos, o que mais me chamou a atenção nesse Australian Open é que a grande maioria dos tenistas está usando encordoamentos híbridos, o que era muito diferente anteriormente: de 2000 a 2010, com o aparecimento maciço dos monofilamentos, a grande maioria dos tenistas usava cordas da Luxilon em toda a raquete. Guga, por exemplo, foi um dos precursores desse tipo de corda, mas era tendência e vários número 1 do mundo usavam essas cordas em 100% do encordoamento, como Moyá, Ferrero e tantos outros.

Porém, com o jogo cada vez mais rápido, hoje os tenistas chegaram à conclusão de que tem praticamente o mesmo controle com um encordoamento híbrido do que com uma corda inteira em monofilamento, mas com MUITO mais sensibilidade e conforto. Um tipo de cordas muito procurada entre eles, que estava "sumida" há alguns anos, é a própria tripa natural!

Os tenistas de ponta estão usando em sua grande maioria híbridos de tripa (tanto nas mains/verticais quanto nas crosses/horizontais) com Luxilon, que ainda é a marca preferida entre os profissionais. Mas hoje já bem mais dividida com outras marcas como Yonex e Babolat.

Para exemplificar, alguns dos tenistas que usam essa combinação (de altíssima qualidade) são: Federer, Murray, Djokovic, Tsonga, Nishikori, irmãs Williams, Kerber e irmãos Bryan. Notem que eles estão entre os melhores do mundo! Porém nós, amadores, não precisamos necessariamente usar a tripa natural (devido ao custo mais elevado). Hoje, temos disponíveis no mercado tripas sintéticas de altíssima qualidade. Sugiro que vocês testem essa combinação, principalmente na modalidade menos usual, em que a tripa fica nas mains/verticais. A sensibilidade é sensacional! 

Com relação às libras, temos um grande paradoxo: elas também estão cada vez mais baixas. Na verdade, tanto profissionais quanto amadores, quanto menos tensão conseguirem jogar, mais prevenidos de lesões estarão. No caso dos profissionais, em um jogo tão pesado e rápido, usar a força do adversário com uma tensão mais baixa também não é uma má ideia, não é mesmo? Há tenistas profissionais usando menos de 40 libras, mas é rarp. Digamos que a média que os jogadores têm usado está entre 50 a 55 libras. Claro que isso também varia muito com o estilo de cada um e também com o peso da raquete. 

O peso da raquete também é um capítulo à parte: também estão cada vez menores. Digo isso pois a primeira coisa que vem na cabeça de muitos quando se fala em equipamentos de tenistas profissionais, é uma raquete superpesada, com muito peso no cabo e com tensão elevada. Sim, era mais ou menos isso poucas décadas atrás, mas os equipamentos tiveram que se readequar! Com esse estilo de jogo onde "quem manda é o spin" fica muito difícil manusear uma raquete muito pesada para fazer a bola girar. Mas, em contrapartida, os jogadores precisam ter algum peso na raquete para mandar uma bola mais agressiva ao seu oponente. A saída que alguns tiveram foi reduzir o peso da raquete, mas rebalanceando o aro, a fim de concentrar mais o peso dela em um local específico (muitas vezes o cabo) para ter uma raquete com um swing-height mais satisfatório e uma raquete mais leve para "puxar" spin. Um dos maiores tenistas da história, finalista do torneio, inclusive, aderiu a essa mudança! 

O que quero deixar claro é que já está em curso uma modificação drástica na maneira de os profissionais encararem seus equipamentos e isso deve ser levado em consideração entre nós, amadores. Obviamente, nem tudo isso se aplica a todos os tipos de jogadores e raquetes. Por exemplo, não recomendaria a um tenista que usa uma raquete muito leve e de cabeça grande que ele reduzisse a tensão, mas acredito, sim, que MUITO pode ser feito no campo dos equipamentos, tanto em raquetes, cordas, tensões e principalmente balanceamento de raquetes através de peso, para se conseguir otimizar seu próprio jogo de acordo com as novas realidades, assim como os profissionais estão fazendo! Converse com um profissional especializado em tênis para saber o que você pode fazer em seu arsenal para melhorar seu jogo. Não hesite em tentar! 

Essas e outras informações podem ser conseguidas diretamente comigo e minha equipe em uma de nossas lojas especializadas ou pelo e-mail. 

Grande abraço e até a próxima!

Um dos mais renomados especialistas em equipamentos para tênis do Brasil, com quase duas décadas de experiência. Encordoador oficial do Australian Open 2017; encordoador oficial do Brasil Open em 3 oportunidades além de outros torneios ATP nível Challenger. Membro da Associação Europeia de Encordoadores. Certificado pelo francês Lucién Nogues durante a convenção Babolat Brasil. Esteve presente em Roland Garros 2017, convidado para acompanhar a sala de encordoamento do torneio e últimas tendências do circuíto. Autor de dezenas de matérias sobre equipamentos de tênis nos maiores veículos de comunicação do esporte. Proprietário e responsável pela área de tênis no grupo Tivolli Sports/Raquetemania, em Alphaville -SP.

fabrizio@raquetemania.com.br


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