1) Por que alguns jogadores top não são bons no saibro?
Técnica e movimentação estão juntos, passo a passo. Jogadores que se movem mal no saibro, o golpe desmorona mesmo antes de começarem a se preparar para o golpe. Andy Roddick tinha um saque e forehand grandes, seu backhand era pobre, assim ele tentou cobrir esse lado batendo forehands. É mais fácil fazer isso na quadra dura do que no saibro. Na terra batida, isso significava que ele tinha um mau posicionamento na quadra.
Ao mesmo tempo, jogadores que têm fraquezas são facilmente explorados no saibro. Por exemplo, Roddick não só tinha um mau revés, mas também sua recuperação no lado do revés não era eficiente. Muita gente fala sobre a importância do primeiro passo para se recuperar, mas eles não entendem que o fator mais importante é a capacidade de parar para poder se recuperar com força. Isso é ainda mais crucial quando se joga no saibro. Os jogadores têm de aprender em idade precoce como parar de forma eficiente. Roddick não era lento, mas ele foi extremamente ineficiente em termos de parar. O seu movimento durante o processo de recuperação, especialmente no lado de trás, foi o seu ponto fraco.
Rafael Nadal pode correr em torno de seu revés de forma eficaz, porque ele se move muito bem, seu passo de recuperação é excepcional. Eu atribuo aquela sua recuperação atlética completa ao fato de usar a quadra a seu favor, com forte parada, deslizando abaixado, com base ampla, com o tronco superior sendo capaz de manter o equilíbrio, tendo o poder de se recuperar e se preparar para o próximo golpe. Os jogadores que são alérgicos ao saibro são principalmente devido à fraca movimentação, não porque eles não sejam rápidos, mas porque eles não podem parar de forma eficiente para serem capazes de se recuperar.
2) Como você lida com jogadores que não gostam de jogar no saibro? E como você trabalha com eles (tecnica, física e psicologicamente)?
Hoje, a ATP tem 22 torneios em quadra rápida descoberta e 21 torneios no saibro descoberto, a maioria dos 16 torneios indoors são jogados em quadra dura. No circuito juvenil, é a mesma coisa, equilíbrio entre quadras duras e saibro. Por isso é importante para os jogadores em idade precoce se acostumarem a jogar e ser eficientes em ambas as superfícies.
Quando eu comecei a trabalhar com Kei Nishikori, aos 13 anos de idade, ele jogava apenas no Japão onde usam a quadra dura, algumas das mais rápidas do planeta. Nos primeiros dois anos, de 13 a 15, eu o fiz praticar 90% do tempo no saibro americano ou o que chamam de saibro verde. A razão era simples: para um jogador ter sucesso no jogo de hoje, deve ser proficiente em todas as superfícies. Tecnica e taticamente, ele costumava bater muito chapado, com pouco topspin, fazendo muitos erros. Ao fazê-lo jogar no saibro e usando barreiras, certificando-se de que ele tinha que bater a bola sobre a barreira, não uma bola alta, mas uma bola pesada, dando-lhe mais margem de erro e por causa do peso da bola, empurrando o adversário para trás.
O movimento no saibro é muito preciso, a técnica é vital, então Nishikori praticou todos os dias como se mover com a técnica adequada. Começando por aprender a deslizar corretamente, colocando ênfase em como parar usando a perna de dentro e o pé como uma âncora, onde o tornozelo tem que girar para dentro, com flexibilidade. A ênfase era ter todo o lado do tênis e suas meias cheios de saibro para se certificar de que ele estava se abaixando bem e com ampla base para controlar a parte superior do corpo. Esse pé interior era a âncora, ele tinha que mantê-lo tocando o chão para que ele pudesse usar a perna de dentro para se recuperar rapidamente e com poder suficiente para maximizar o primeiro passo de recuperação. A chave para mover no saibro é parar com equilíbrio e recuperar com força. Quanto mais os jogadores praticarem não só técnica e tática, mas a movimentação no saibro, mais vão se familiarizar.
O programa de condicionamento físico também deve ser específico para essa superfície. Hoje os jogadores movem-se muito bem em todas os pisos, sua técnica de movimentação é uma mentalidade de saibro, a maioria dos melhores jogadores hoje desliza em quadras duras para apanhar uma bola aberta. Jogadores dos anos 90, como Michael Chang, não faziam isso.
3) Como se tornar um jogador bem-sucedido nas quadras de saibro?
Minha filosofia desde o início da carreira tem sido a de que os jogadores têm de jogar em todas as superfícies para serem capazes de se tornar não só campeões, mas astros. Nos anos 70 e 80, havia jogadores que só jogavam ou eram bons em um piso. A Armada Espanhola dos anos 80 estava no topo do ranking mundial, mas não estavam em Wimbledon porque não eram bons nessa superfície.
Todos os juniores que eu treinei, começando com Jimmy Arias e Aaron Krickstein, que eram jogadores de quadra dura, tornaram-se bons jogadores de saibro. Eu sou um treinador de desenvolvimento, isso significa que começo a trabalhar com os alunos em uma idade precoce, geralmente meninas de 9 anos e meninos de 12, máximo de 13 anos. Acredito em trabalhar com jogadores talentosos e com um plano muito claro que eu coloquei por escrito. Eu chamo de plano de periodização, é feito voltado ao futuro. Aos 18 anos, eles têm de estar na chave principal de Grand Slam ou eles provavelmente irão continuar jogando tênis universitário. Então a partir desse ponto, eu volto para trás um ano, escrevendo metas específicas, como resultados em torneios. Resultados não mentem e nos mostram o caminho, o que estamos fazendo certo e que áreas precisamos melhorar em todos os aspectos do jogo.
Ter um plano claro delineado para construir um jogador é tão essencial quanto ter um plano para construir uma casa. Quando os jogadores talentosos vêm a mim, nosso primeiro objetivo a curto prazo é jogar o juvenil de Roland Garros, as meninas precisam estar jogando aos 15 anos, os meninos aos 16. Este é o objetivo para nos certificarmos de que estão seguindo corretamente. A forma como o calendário júnior da ITF está programado torna esse torneio a nossa primeira prioridade, tornando o circuito de saibro da América do Sul muito importante. Por isso, todos os juniores sabem desde cedo que têm de jogar bem na terra batida. Todos os jogadores que eu fiz seguiram a mesma estrada, com a exceção de Monica Seles, que era um gênio, sem dúvida a mais talentosa que eu treinei.
A parte mais importante do trabalho deles desde muito jovens era jogar em saibro tanto quanto possível, batidas, drills, pontos de jogo e, ainda mais importante, era o condicionamento físico específico, de forma a considerarem o saibro como seu pão com manteiga. Os jogadores que não estavam acostumados a se movimentar no saibro, começamos lentamente ensinando-os primeiro a parar deslizando. Eu digo aos jogadores para tirar proveito da superfície, deslizando e recuperando sem dar um passo extra. O melhor exercício para isso é jogando bolas de lado a lado, onde a bola que o treinador lança tem que passar entre as pernas dos jogadores, apenas as posições abertas são permitidas, usamos de oito a 12 bolas. Nós também fazemos exercícios em que o jogador tem que recuperar bolas curtas e profundas. Novamente, a ênfase está em parar, usando a técnica de deslizamento, e o primeiro passo da recuperação.
Antes que Mary Pierce ganhasse o Aberto da França, seu principal drill foi feito no saibro verde, dois e um, em que ela batia bola contra os meninos. Eles não podiam perder uma bola, no primeiro drill, ela vai bater cruzando a quadra e os meninos vão mandar em cima da linha. Ela bateu bola por três minutos sem parar, então tinha um minuto de descanso e fazia tudo novamente. Ela fez seis sets, depois de terminar o sexto set, parava por cinco minutos e começava o segundo drill em que, para a mesma quantidade de tempo e mesmo intervalos, ela iria bater em cima da linha e os meninos teriam de bater bolas cruzadas. No momento em que ela chegou ao Aberto da França, ela era uma máquina.
Quando recrutei Iva Majoli, durante meu primeiro ano trabalhando com ela, viajamos para o Orange Bowl, naquela época era um torneio de saibro. Ela perdeu feio nas rodadas iniciais. Lembro-me depois do jogo que diziam que eu tinha perdido o olho. Na opinião deles, ela não poderia abrir caminho para fora de um saco de papel. Depois de voltar para a academia, eu a deixei saber que assim ela não iria a lugar nenhum, especialmente no saibro, que se ela queria ser uma campeã, teria que bater a bola, sem medo. Todos os dias, ela trabalhava em voleios altos e forehands. Quando ganhou o Aberto da França, ela era uma das jogadoras mais agressivas do circuito.
4) Um jogador pode usar o mesmo estilo de jogo em qualquer superfície, incluindo quadras de saibro?
Desde 2002, 2003, a velocidade das quadras duras tem sido reduzida muito e a velocidade das quadras de saibro tem sido cada vez mais rápida. Quando Agassi venceu o Aberto da França em 1999, foi o primeiro jogador na Era Aberta a ter vencido todos os torneios de Grand Slam. Nenhum jogador desde Rod Laver tinha conseguido essa façanha. Desde 2008, Nadal, Federer e Djokovic juntaram-se ao desempenho de elite de Agassi ao vencer o Grand Slam em todas as superfícies.
Nos últimos 10 anos, as mudanças nas superfícies de jogo alteraram a maneira como o jogo é disputado e essas mudanças tornaram o tênis mais competitivo. No passado houve jogadores agressivos de saque e voleio, como Sampras e McEnroe, e jogadores defensivos como Bruguera, Borg e Villas.
Hoje a maioria é de jogadores de base agressivos, jogadores que jogam em torno da linha de base, forçando o adversário a acertar uma bola curta, seja dentro da linha de base ou em torno da linha de serviço. A partir daí, eles atacam essa bola, na maioria das vezes usando o forehand como uma arma, colocando o golpe longe, batem com tanta força que na maioria do tempo a bola não volta.
Nos anos 80, os jogadores usavam empunhadura Continental e Eastern para o forehand, então eles acertavam aquela bola curta com um slice de aproximação à rede e finalizando o ponto com um voleio. O melhor que os adversários podiam fazer era acertar uma passada na linha ou um lob. Eles também tinham o backhand de uma mão, que não é o caso hoje. Os jogadores preferiam empunhadura Semi-Western para a direita e backhands de duas mãos, tornando as passadas mais precisas e com mais variedade. A velocidade das superfícies e as empunhaduras mudaram o jogo de hoje. Estou certo de que se Agassi tivesse competido hoje com as novas superfícies mais lentas, ele teria quebrado todos os recordes existentes.
Os jogadores não podem mudar seu estilo de jogo para se acomodarem à superfície. Em 2008, eu viajei com Nishikori para disputar pela primeira vez a Copa Davis contra a Índia, a superfície era a grama. Eu disse a ele para jogar seu estilo, jogo agressivo de linha de base. Ao invés disso, ele escutou o seu companheiro de equipe, Suzuki, e decidiu manter a bola baixa e atacar a rede, tanto quanto possível, que não é o seu jogo, e ele perdeu feio. Mas ele era jovem e aprendeu uma grande lição que tem ajudado no restante de sua carreira. Ele tem que manter o seu estilo de jogo não importa a superfície.
Por causa da semelhança hoje na velocidade dos pisos, os jogadores podem usar seu jogo de força na linha de base para competir nos Grand Slam e eles não têm de fazer mudanças drásticas ou ajustes dependendo da superfície. A velocidade nas superfícies hoje faz com que os jogadores tenham o mesmo estilo de jogo, tornando possível para todos jogar sem desvantagem em qualquer piso. Novamente, a única grande diferença é o movimento e os jogadores têm de ser capazes de competir em todas as superfícies. A chave é começar em idade precoce, o volume de trabalho sobre o saibro é sagrado.
5) Quais são os princípios mais importantes para ser bem sucedido no saibro?
Em abril de 1991, fui convidado para falar em um grande congresso na Espanha para treinadores. Foi um dos meus primeiros eventos como palestrante. A minha palestra foi às 9 horas da manhã, antes da de Pato Alvarez, que na época era o rei do tênis na Espanha. Minha conversa foi sobre tênis moderno, jogando em cima da linha, tirando tempo do adversário e jogando agressivamente da linha de base. Quando Pato foi para sua apresentação, ele começou dizendo que Jaramillo era muito jovem, talentoso treinador, mas que eu não sabia sobre tênis em quadra de saibro, que especialmente na terra batida os jogadores tiveram que voltar e que a defesa era mais importante que o ataque. Depois de sua fala, afinal ele era o Rei, as pessoas olhavam para mim como um técnico jovem, mas inexperiente. Apenas um mês depois, no Aberto da França, Agassi e Jim Courier fizeram a final e Seles ganhou entre as mulheres, todos eles jogando tênis moderno, perto da linha de base, pegando a bola no ar através de swinging volleys e aproveitando todas as bolas curtas. Depois desses resultados, as pessoas entenderam que o futuro do tênis tinha chegado.
Em 1988, Agassi estava jogando o Aberto da França, não sabíamos o quão popular ele era. Enquanto ele ia para a quadra para seu jogo de primeira rodada, foi assediado por muitas fãs, para sua surpresa, que puxavam sua camisa, seus cabelos, todas queriam tocá-lo, apenas estar perto dele. Ele ficou surpreso e com medo, ele não estava esperando isso. Tivemos que correr de volta para o vestiário para trocar de roupa. A partir daquele dia, cada vez que ele ia para a quadra, tinha proteção policial. Ele foi o primeiro jogador a ter segurança para levá-lo à quadra.
Em 1978, Borg e Vilas fizeram o rali o mais longo na história do jogo: 86 trocas. Isso não acontece no jogo de hoje. Jogadores costumavam trocar muitas bolas cruzadas até que um deles acertasse uma bola mais curta e só então o adversário iria mudar de direção. No tênis atual, é difícil ver um troca de cruzadas de mais de três bolas. Os jogadores mudam hoje rapidamente. Por um lado, as quadras de saibro estão mais rápidas, mas os jogadores são muito mais agressivos, eles batem a bola mais cedo, com topspin pesado e com muito mais força. O jogo foi muito linear. Mesmo nos anos 90, Ivan Lendl tinha o forehand mais poderoso do tênis. Se compararmos aquele golpe com o de Djokovic, não é nem mesmo parecido. Os jogadores modernos prepararam, carregam e usam a energia elástica para construir golpes devastadores. Para ser capaz de bater com força, eles precisam se movimentar extremamente bem.
O jogo tem evoluído ainda mais nos últimos cinco anos, as estatísticas do US Open de 2016, a média de golpes em um ponto foi de 4, no Aberto da França do mesmo ano, ralis de 4 golpes na maioria dos pontos. Isso significa que os dois primeiros golpes que o jogador acerta são vitais. Por exemplo, o saque e o primeiro golpe a seguir ditarão se ele vai ganhar ou perder o ponto. Igualmente é o mesmo para o jogador que devolve. Ele rebate agressivamente e seu golpe seguinte vai determinar se ganha ou perde o ponto. No tênis atual, não é suficiente colocar a bola de volta em jogo, os jogadores têm de ditar cedo e terminar o ponto na primeira chance. Antes, os sacadores tinham a vantagem, hoje os melhores jogadores do mundo são os que devolvem bem. Estatisticamente, os homens só ganham 48% do tempo quando eles servem o segundo saque; as mulheres só 42%.
Ao mesmo tempo, os melhores jogadores de hoje são os melhores jogadores defensivos, não porque empurram, mas porque não dão aos oponentes ângulos para atacar, movem-se extremamente bem e atacam e defendem ao mesmo tempo, tirando o espaço. Os primeiros quatro tiros determinarão o resultado do ponto. Os jogadores têm, em geral, o mesmo estilo de jogo, são jogadores de fundo agressivos, tornando o jogo mais uniforme em qualquer superfície e tornando as rivalidades mais interessantes para os fãs.
6) Gabe Jaramillo.
Hoje eu tenho minha própria academia na Flórida, no Club Med Sandpiper. Ainda gosto de desenvolver jogadores talentosos e fazer campeões dentro e fora da quadra. Ao mesmo tempo, escrevo para a revista Smash, do Japão, Net 7 da Argentina, TenisBrasil, Racquettech da Alemanha e sou colaborador da BBC World News Rádio.
Faço palestras motivacionais para empresas como Neoris, Discovery Channel, Club Med, World City, comparando as experiências dos campeões, como treinam, como se preparam antes de um jogo, como aprendem após cada partida e como essas coisas se relacionam com mundo dos negócios. Eu sou especializado em conversas com pais de todo o mundo, em como eles podem ajudar seus filhos a alcançar seu pleno potencial, enriquecendo seu relacionamento.
Eu faço jogadores, então trabalho com eles por muitos anos, meninas de 9 anos de idade e meninos geralmente começando com 13. Eu trabalho com eles até que tenham cerca de 20 anos. Naquela época eles tinham dinheiro suficiente para contratar seus próprios treinadores particulares. Alguns dos jogadores com quem trabalhei por muitos anos são: nos anos 80, Jimmy Arias, Aaron Krickstein, Carling Basset, Lisa Bonder. Nos anos 90: Andre Agassi, Pete Sampras, Jim Courrier, David Wheaton, Marcelo Rios, Monica Seles, Iva Majoli. Nos anos 2000: Mary Pierce, Jelena Jankovic, Max Mirnyi, Xavier Malisse, Tommy Haas, Maria Sharapova, Nicole Vaidisova, Kei Nishikori.