Tive o privilégio de palestrar no 1º Workshop Internacional Brasil Open, evento paralelo ao ATP 250 que aconteceu no Ginásio do Ibirapuera. O evento contou com a brilhante presença de Daniel Orsanic, capitão da equipe argentina que foi campeã da Copa Davis em 2016.
A ideia deste evento foi concebida há quase 1 ano, juntamente com Aldo Brandão (Batata). Precisávamos de um palestrante com renome internacional, e assim chegamos ao nome do Orsanic. Muito simpático e com um excelente português, falou sobre algumas importantes diferenças entre o tênis argentino e brasileiro, além de demonstrar em quadra alguns treinos que utilizou com a equipe argentina da Copa Davis.
A ideia central do Workshop foi a PRÁXIS.
Na pedagogia, práxis é o processo pelo qual uma teoria, lição ou habilidade é executada a partir de uma experiência vivida. Desta forma, procuramos compartilhar com os participantes o conceito de que o ENSINO, para ser rico e gerar retenção, deve aliar a Teoria à Prática.
Há muito tempo insisto que o conhecimento deve ser COMPARTILHADO. Portanto, compartilho abaixo, os 10 tópicos apresentados em minha palestra, cujo tema foi “Análise Biomecânica”:
Em um primeiro momento procurei mostrar a importância do Desenvolvimento Técnico no tênis. Sabemos que o conjunto de competências técnicas é muito importante para o desempenho de um tenista. Normalmente essas competências não são medidas e avaliadas de maneira objetiva. Uma Análise Biomecânica detalhada é capaz de medir e avaliar essas competências.
Não podemos ficar restritos à técnica. O ensino moderno do tênis começa com as táticas do jogo. Desta maneira o tenista entende melhor o porquê deve desenvolver suas competências técnicas. Mostrei uma bateria de 18 avaliações táticas que dão suporte às avaliações técnicas.
A prevenção de lesões também é uma das abordagens da Análise Biomecânica. Inclusive, em casos crônicos, passa a ser o foco principal da análise, mais importante que a performance. Obviamente, uma lesão pode ter várias causas, é multifatorial. Porém, com uma técnica mais rica, mais próxima dos conceitos biomecânicos, o tenista tende a reduzir a chance de lesão.
Muitos tenistas sabem “como executar” um golpe. Esse é o conhecimento processual. Porém, tão importante quanto o conhecimento processual é o conhecimento declarativo, onde o tenista consegue “explicar como executar”. Quando isso ocorre, o tenista tem maior capacidade para CORRIGIR seus erros e REPETIR seus acertos. Por isso, é muito importante que o tenista tenha feedbacks, principalmente os visuais, onde a retenção, na maioria das vezes, é maior.
Abaixo, um exemplo de feedback visual:
Para uma Análise Biomecânica eficiente, a filmagem deve contemplar vários ângulos. Com a utilização de drones, podemos também avaliar o tenista a partir da vista de cima (top view).
Sem dúvida, esta é a fase crítica de uma Análise Biomecânica. É aqui que percebemos a capacidade do avaliador em reunir teoria e prática (PRÁXIS). Abaixo, listarei sucintamente alguns conceitos que o avaliador deve dominar:
Após a conclusão do Laudo Técnico, é o momento de mostrar os resultados para o tenista, equipe técnica e pais. Procure uma sala adequada, com uma boa projeção de imagens. Isso vai impactar o tenista e ajudar a convencê-lo a realizar as intervenções necessárias.
Faça isso antes de ir para a quadra. O tenista absorverá melhor as informações ainda em repouso, com o nível de adrenalina baixo.
Seguindo esses princípios, a retenção de informações tende a ser maior.
O primeiro passo da intervenção é conscientizar o tenista que em curto prazo (uma ou duas semanas) estará sujeito a uma queda de performance. A explicação é simples: estará executando novos movimentos, recriando padrões motores. Até conseguir executar esses novos movimentos de maneira automatizada, o tenista terá que repetir muitas vezes. Alguns estudos apontam que esse numero de repetições é de aproximadamente 450 vezes.
Outro importante conceito é realizar a intervenção em um golpe de cada vez. Se o tenista receber muitas informações, poderá entrar em processo de “crosstalk”, onde o excesso de informações pode travar o sistema.
Cada tenista responderá de uma maneira a um mesmo estímulo. Portanto, procure variar os estímulos de intervenção.
Exemplo: para treinar a pronação do antebraço, um dos mais importantes movimentos do saque, utilize uma bola de futebol americano, como mostra o vídeo abaixo:
Evite fazer “Control C + Control V” com vídeos de instruções em redes sociais. PRODUZA SEU PRÓPRIO CONHECIMENTO. Procure responder as seguintes perguntas antes de aplicar um treino:
Além dos cuidados citados acima, vale ressaltar a importância de seguir uma sequência pedagógica durante as intervenções. Exemplo de sequência para a intervenção de um forehand ou backhand:
Esse é o momento mais esperado de uma Análise Biomecânica. Muitos jogadores buscam constantemente o aprimoramento técnico. Muitas vezes são detalhes quase imperceptíveis.
Durante a semana que precedeu o Workshop, filmei alguns tenistas que jogaram o Brasil Open. Comparei as filmagens captadas com filmagens mais antigas dos mesmos tenistas. A mudança mais evidente que encontrei foi o aumento na distância entre os pés no saque do francês Gael Monfils. Esse aumento de base auxilia na fase de “balanço” do saque, responsável por projetar o corpo do sacador para frente e para cima. Uma maior utilização dos membros inferiores auxilia na ativação dos membros superiores, potencializando a geração de velocidade na cabeça da raquete. Resultado: mais potência!
Por fim, procurei demonstrar que a Análise Biomecânica é uma importante ferramenta de avaliação. Contextualizei que o ensino do tênis, por muitas vezes, já parte de um trabalho prático, em quadra, sem uma avaliação prévia. Além disso, enfatizei a importância da reavaliação: é neste segundo momento que teremos um parâmetro mais claro acerca dos treinos executados. Surtiram efeito ou não?
Se fecharmos esse ciclo, monitorando constantemente as variáveis, com certeza, teremos melhores resultados e elevaremos o ensino do tênis a um patamar de mais respeito.