Artigo recente publicado na seção de Esportes de um grande jornal em São Paulo traçou um paralelo entre o Brasil e nossos vizinhos argentinos a respeito da formação de tenistas, a partir do infanto-juvenil até o profissionalismo.
A matéria enfatizou que em que pese termos tido um número 1 do mundo na pessoa do Guga e a Argentina não, a superioridade tenística de nossos vizinhos é inquestionável. O artigo ressalta alguns itens que deixam isso muito claro. Com 12 mil tenistas filiados, a Argentina tem seis jogadores entre os top 100. Número atualmente baixo para os padrões daquele país, pois em 2007 eram 11. O Brasil com 18 mil registros tem dois. Nosso vizinho, na era profissional a partir de 1968, tem 50 títulos de primeira linha, enquanto que nós temos três. Enquanto a Argentina é quinta no ranking da Copa Davis, somos 19º. O número 1 argentino, Juan Martin Del Potro, é o quinto do mundo. O nosso, Thomaz Bellucci, é o 32º.
Mas o objetivo da matéria não foi comparar algo já sobejamente conhecido. Mas destacar a opinião de técnicos argentinos do porque o sucesso da Argentina no processo de transição entre o juvenil e o profissionalismo, comparativamente com o Brasil. O título da matéria é "Diversão atrapalha formação de tenistas". Segundo um técnico argentino radicado no Brasil, "a cultura tenística argentina é maior" (sic)". Sem discussão. Mas quando ele afirma que a "principal diferença é que o jovem brasileiro tem mais opções de lazer e, com isso a chance de desfocar no tênis é muito maior (sic)", já começo a achar que é gozação.
Um outro técnico argentino vai mais longe! Diz: "O Brasil é um país muito alegre. Tem Carnaval e muitos feriados." Senti algo de ironia no ar! O pior é que tudo isso foi corroborado por um técnico brasileiro de um conceituado Instituto que afirmou que "os brasileiros tem facilidade maior para se divertir".
Evidentemente, são afirmações simplistas, sem nenhuma análise mais aprofundada do assunto, bem do tipo de que quem "não tem ou não quer dizer nada!" Então, nos grandes centros formadores de tenistas, Nova York, Madrid, Miami, Flórida, Barcelona, apenas para citar alguns, cidades modernas e cosmopolitas, não há diversão? Os jovens do mundo todo que lá vão aperfeiçoar seu tênis ficam confinados em base militares ou monastérios?
Se formos analisar friamente as causas que dificultam o ingresso do juvenil brasileiro no difícil, complexo e elitizado mundo do profissionalismo, novamente voltaremos a aspectos velhos conhecidos, exaustivamente apontados, comentados e discutidos, mas ainda sem soluções: a ausência de investimentos públicos ou privados no jovem tenista, a inexistência de um planejamento que acompanhe o jovem desde a infância até o profissionalismo, a falta de um local para um treinamento de excelência bem como um acompanhamento técnico, físico, nutricional e psicológico através de profissionais competentes, indispensáveis para a formação de uma carreira profissional sólida, entre outros.
Ignorar estas realidades e decretar que os entraves que nossos juvenis encontram é devido à "facilidade para diversões" ou que a culpa é do "Brasil ser muito alegre, ter Carnaval e muitos feriados" só pode ser levada na brincadeira.
Lamentavelmente são opiniões de profissionais estrangeiros contratados por clubes, academias e federações e que trabalham com nossos juvenis. Profissionais muitas vezes supervalorizados apenas pelo fato de serem "estrangeiros", coerente com nossa subserviência histórica de valorizar o que vem de fora. Pois "para não dizer nada" ou para continuar tudo como sempre, ficamos com nossos profissionais mesmo.
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