Instrução | Equipamento
Tensões e raquetes: dados curiosos do Brasil Open
Por Fabrizio Tivolli
19/02/2008 às 14h20

Amigos, estou interrompendo a segunda parte da matéria sobre raquetes por uma ótima causa. Trabalhando pelo terceiro ano consecutivo como encordoador oficial do Brasil Open, reuni uma série de informações muito importantes sobre o equipamento dos tenistas profissionais.

Existem alguns mitos e verdades sobre os equipamentos, que vão além apenas das raquetes. Como veremos a seguir, em um nível tão competitivo como o da ATP, muitos tenistas levam vantagem nos pequenos detalhes. É esse tipo de comparação que devemos fazer para tirar proveito também em nosso rendimento em quadra.

Vamos começar com o que é provavelmente o item com mais particularidades e diversificações no arsenal do tenista: a tensão das cordas. Este item é de extrema importância, pois os tenistas do circuito têm de se acostumar a cada semana com um encordoador e um tipo de máquina de encordoamento diferentes. Isso, sem dizer do clima da cidade onde jogará, altitude, etc.. Bato na tecla da importância deste quesito pois a tensão é uma das únicas características sensivelmente alternantes com que um tenista tem de se preocupar, uma vez que a raquete, seu tipo de cordas, etc, são iguais.

Para começar, quando os tenistas vêm jogar em lugares como a Costa do Sauípe, que está ao nível do mar, devido à pressão, a bola "anda" menos. Por isso, os tenistas diminuem um pouco a tensão de suas raquetes em torno de 2 a 4 libras. Quem acha que os tenistas profissionais usam cordas altamente esticadas, se engana. Este ano no Sauípe as tensões estão na média de 50 a 55 libras. O argentino Guillermo Coria, por exemplo, está usando 50 libras. Já o chileno Nicolas Massú, que usou 70 libras na edição de 2006, reduziu consideravelmente para 56 libras.

Coincidência ou não, nós, na sala de encordoamento, percebemos quando um tenistas está mais ou menos focado, pois em 2006, Massú, que foi campeão do torneio, todo dia encordoava e ia pessoalmente à sala. Já neste ano, o chileno encordoou pouco, quase não o vimos e acabou perdendo na primeira rodada.

O campeão da tensão baixa, mais uma vez foi o italiano Filippo Volandri. Um dos cabeças-de-chave, ele usou 17 quilos (37,4 libras). Na edição de 2006, usou 19 quilos e em 2007, contundido, usou apenas 10 quilos.

Muitos tenistas também usaram tensões diferentes na raquete. Nosso Guga, por exemplo, usou seus tradicionais 23 quilos na vertical e 25, na horizontal, fugindo à "regra". Guga, assim como o argentino Acasuso (57/59libras), usam mais tensão na horizontal para aumentar o uso do efeito topspin. Já tenistas como o russo Igor Andreev, cabeça 3, usam a combinação 26/24 quilos, o argentino Agustín Calleri (48/46 libras) e o espanhol Nicolas Almagro (27/26 quilos) usam mais tensão na vertical da raquete para a tensão da raquete ficar mais equilibrada.

Alguns tenistas também levam para a quadra raquetes com diferentes tensões para, dependendo do adversário ou o objetivo que busca no jogo, poder usar uma raquete com respostas diferentes.

Nas raquetes, o que me chamou a atenção foi a grande diferença de modelos da mesma marca e modelos adaptados à necessidade de cada jogador. O espanhol Albert Montañes, número 51 do mundo, possui raquetes com 28 polegadas, para ajudar na falta de altura, quando o padrão do mercado são raquetes de 27 polegadas.

Entre os profissionais, quase a totalidade usa raquetes longas, com pelo menos meia polegada a mais. O modelo de raquete da Babolat Pure Drive Team, muito usada pelos profissionais, possui diversas particularidades dependendo do seu dono: o espanhol ex- número 1 do mundo Carlos Moyá, por exemplo, possui uma Pure Drive com a distribuição de peso voltada totalmente para a cabeça, enquanto que o ex- top 10 Nicolas Lapentti, do Equador, possui uma raquete do mesmo modelo, porém mais pesada no geral e distribuição de peso equilibrada.Outro clássico entre os tenistas do circuito, a Head Microgel Prestige também mostra inúmeras diferenças. A raquete usada pelo argentino Sergio Roitman tem cabeça muito pequena (mid size) enquanto o mesmo modelo usado por Volandri tem cabeça maior e um pouco mais leve.

O gigante Marcelo Melo me surpreendeu, pois usa apenas 43 libras, uma raquete exatamente com o mesmo peso das do mercado (310 gramas com corda), apesar da distribuição de peso estar na cabeça para auxiliar a dar mais potência ainda. E apesar da mão compatível ao seu tamanho, ele usa grip 4 3/8, sem o cushion grip, apenas com um tourna grip, o que deixa o cabo mais fino, porém sente muito mais a empunhadura.

Caso ainda estejam curiosos por informações de raquetes, cordas e tensões dos profissionais, estou à disposição para o que puder ajudar! Em breve colocaremos no ar a segunda parte da matéria sobre raquetes. Espero que gostem!

Um dos mais renomados especialistas em equipamentos para tênis do Brasil, com quase duas décadas de experiência. Encordoador oficial do Australian Open 2017; encordoador oficial do Brasil Open em 3 oportunidades além de outros torneios ATP nível Challenger. Membro da Associação Europeia de Encordoadores. Certificado pelo francês Lucién Nogues durante a convenção Babolat Brasil. Esteve presente em Roland Garros 2017, convidado para acompanhar a sala de encordoamento do torneio e últimas tendências do circuíto. Autor de dezenas de matérias sobre equipamentos de tênis nos maiores veículos de comunicação do esporte. Proprietário e responsável pela área de tênis no grupo Tivolli Sports/Raquetemania, em Alphaville -SP.

fabrizio@raquetemania.com.br


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