Instrução | Aprendendo e ensinando
Evolução técnica, profissional e moral é mais dífícil
Por Henrique Terroni Filho
10/06/2009 às 14h20
so tenista aguarda o parceiro de muitos anos para a "partidinha" tradicional. O local é o clube (academias não existem) e a quadra é de saibro, único piso existente. Obrigatoriamente todo de branco, calção, camisa, meias e tênis, sem o que o regulamento o impediria de jogar.

Em suas mãos, nosso tenista tem uma raquete Wilson, modelo Jack Kramer, de madeira (único material existente). Um pouco pesada, é verdade, mas nada que impeça uma boa batida. Um amigo trouxe dos EUA, já que aqui é difícil de encontrar e muito cara por ser "importada".

Outra opção seria a Dunlop ou a nacional Davis Cup, de qualidade inferior. Sua raquete, já um pouco usada, está com o aro protegido por um esparadrapo, colocado para protegê-la contra batidas no solo. O couro do cabo também está um pouco gasto e já sem aderência. A solução é, durante o jogo, passar breu no cabo, através de um saquinho que o tenista leva no bolso. O problema é que o breu, abrasivo, com a transpiração e o couro ressecado, causa danos à mão, como feridas e bolhas. Mas, o que fazer? Estabilizadores, anti-vibradores? Inexistem!

O encordoamento é de nylon, tipo caiçara. Dizem as más línguas que é também usado para pesca, mas é resistente e barato. Na verdade, existem mais uma ou duas opções de nylon e a estrangeira tripa natural, de excelente qualidade, mas muito cara e pouca durabilidade. Se a corda quebrar, será feito um conserto, substituindo apenas a corda quebrada. Após dois ou três consertos, é aconselhável trocar o encordoamento, que é feito manualmente pelo professor do clube, e a tensão nas cordas baseia-se no conhecimento pessoal que este tem do jogador.

O calçado (tênis) já amarelado pelo saibro é comum, podendo ser usado no dia-a-dia. Não há nada que o especifique para o jogo de tênis, exceto pela obrigatoriedade que o solado não tenha nada que prejudique o piso.
As bolas Mercur são novas, ainda embaladas na caixa de papelão, com seis unidades, e são brancas, para uma melhor visualização no saibro.

Imagino que o leitor, tenista jovem ou há pouco no esporte, deva estar achando este cenário surrealista. Mas era a realidade de um passado recente e os tenistas um pouco mais antigos devem lembrar até com um pouco de saudade.

A mesma cena, hoje, seria bem diferente. A partida combinada poderia realizar-se no clube ou com horário marcado em alguma academia. Em função da faixa etária, características técnicas e condição física, o piso escolhido poderia ser saibro, natural ou sintético, ou "rápida", piso artificial com base asfáltica ou concreto.

Nosso tenista, entre tantas marcas, modelos e especificações, usaria uma raquete que tem em sua composição fibras de carbono, ou tungstênio, ou titânio, materiais impensáveis há alguma décadas, tudo projetado para uma melhor potência e controle da bola. Para evitar ou minimizar lesões decorrentes da vibração, sua raquete tem um antivibrador ao redor do aro, composto de esferas de quartzo, que ativados com o contato com a bola dissipam a vibração. O encordoamento, multi ou monofilamentado, poderia ser de nylon, tripa sintética ou natural e a tensão das cordas objetivariam potência e controle. Tudo, encordoamento e pressão, evidentemente executado eletronicamente por máquinas de ultima geração.

Os calçados (tênis), projetados na sua composição e aerodinâmica exclusivos para a prática do tênis, com ventilação e amortecimento adaptado para os diferentes pisos. As bolas, diferentemente das antigas caixas de papelão, vêm acomodadas em tubos pressurizados, garantindo maior durabilidade, e também específicas para cada piso.

Não resta dúvida que, em alguns anos, o tênis no Brasil, no que se refere a equipamentos, teve um notável avanço tecnológico. Mas, de repente, veio-me um pensamento... Em que pese todo este avanço, no período "jurássico" do início da matéria, jogava-se tênis com mais alegria.

Contusões e lesões eram praticamente inexistentes. Os clubes, fruto de um trabalho competente e responsável dos professores, anualmente revelavam inúmeros infanto-juvenis prontos para as competições. Muitos jogaram de igual para igual e venceram os maiores do mundo na época. O ensinamento do tênis era feito por profissionais competentes e experientes.

Desavenças entre jogadores, técnicos e dirigentes se acontecessem eram fatos isolados que não adquiriam a repercussão de hoje. E desmandos administrativos, intervenções judiciais, liminares, acusações de corrupção...Eram impensáveis!

Realmente, evoluir tecnologicamente chega a ser natural. Mas evoluir tecnicamente, profissionalmente e moralmente parece muito mais difícil!

Dúvidas? Sugestões? Sua opinião é muito importante: hterroni@ig.com.br

Henrique Terroni Filho; 1ª classe da Federação Paulista; participou de competições oficiais nacionais e internacionais até meados de 1970. Professor de tênis para adultos e crianças há 25 anos. Autor do Programa "Tênis: terapia para crianças"; em conjunto com psicólogos. Consultor para clubes e academias nas áreas administrativa; financeira e técnica. Formação em Administração de Empresas; pós-graduação em Administração Financeira e Marketing; curso em Psicologia do Esporte.

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