Instrução | Aprendendo e ensinando
As mudanças no tênis amador
Por Henrique Terroni Filho
18/01/2011 às 14h20

Há muitos anos no tênis, como jogador, diretor de clube, professor e colunista em sites e revistas especializadas, tenho testemunhado mudanças expressivas no tênis amador nacional. 

Em meados dos anos 70, o reinado do piso de saibro foi invadido pelas quadras sintéticas, ditas "duras" ou "rápidas". Originárias dos Estados Unidos, o piso de cimento levava vantagem sobre o de terra (saibro), principalmente nos quesitos manutenção e utilização mais rápida pela secagem após uma chuva. Estas quadras proporcionaram mudanças consideráveis na biomecânica dos golpes, pelo fato de a bola pular mais e tornar-se mais rápida. Foi o advento do "top spin", uma batida com os movimentos mais curtos, angulação da raquete diferente e um efeito que potencializava o pulo da bola no piso de cimento.

Na mesma época, os equipamentos começaram a se modernizar. As pesadas raquetes de madeira começaram a ser substituídas pelo alumínio, grafite, cerâmica, titânio, mais leves e resistentes. A melhor distribuição do peso passou a oferecer ao tenista a opção de maior potencia ou controle. Começou a ocorrer uma maior oferta de cordas bem como a substituição do encordoamento manual pelo uso de máquinas que automaticamente davam a pressão nas cordas que o tenista desejava. Os calçados incorporaram tecnologia para um melhor desempenho tanto nas quadras de saibro como nas rápidas. As academias se expandiram, dando aos tenistas maiores opções para jogar e aprender, antes restritas exclusivamente aos clubes. 

Mas se as mudanças modernizadoras, os avanços tecnológicos no piso e equipamentos, foram um avanço facilitador na iniciação e prática do tênis, o mesmo não posso dizer sobre a forma como hoje é desenvolvido o ensinamento do tênis e o incentivo às competições amadoras, positivamente acirradas num passado recente. 

Há alguns anos, os professores dos clubes (academias não existiam!) tinham, entre outras atribuições, a de preparar e treinar os jogadores que defenderiam o clube em competições individuais e por equipes. Desta forma, todo o aprendizado tinha como objetivo primeiro a competição. A iniciação, o aperfeiçoamento dos fundamentos, os treinamentos específicos técnicos, físicos e mentais visavam dar condição ao jovem de sair-se bem nas competições. Os iniciantes que não queriam competir, uma minoria, participavam de todo o processo e os utilizavam para um tênis recreativo. 

Evidentemente, os professores para bem desempenhar esta tarefa necessitavam ter uma história dentro do tênis. Não só ter um perfeito domínio de todos os fundamentos, mas ter experenciado competições de alto nível para transmitir aos alunos os comportamentos adequados nas diversas situações de um jogo competitivo. 

Foi um momento de revelação de grandes jogadores em que muitos, saídos dos clubes e participantes dos torneios abertos da época e dos famosos e acirrados interclubes, ingressaram no profissionalismo, que dava os primeiros passos no Brasil, e participaram de competições internacionais junto com os maiores jogadores da época.

Atualmente a situação é bem diferente. Os grandes torneios amadores realizados pelos clubes assim como os interclubes, com a importância que tinham, não mais existem. O aprendizado e a iniciação sofreram uma profunda mudança, com os clubes e academias praticamente abdicando dos objetivos competitivos, dando lugar a um aprendizado e treinamento que prioriza o lúdico e o recreativo. As aulas são ministradas a grupos de alunos na maioria das vezes heterogêneos nos aspectos interesses, dedicação e empenho. Os pais encaminham as crianças às aulas para que tenham mais uma atividade, entre outras. Por sua vez, os professores, limitados quanto a uma atuação efetiva no ensinamento, correção e aprimoramento, limitam-se a promover jogos recreativos e lúdicos, agindo muitas vezes como "animadores de quadra". 

Neste contexto, o surgimento de novos valores é difícil. O desinteresse do jovem em competir, até em meros torneios internos nos clubes, a iniciação norteada quase sempre para a recreação e o lúdico, mostra que se tudo que é material no tênis nacional evoluiu, acompanhando a tendência mundial, a vocação de ensinar, a filosofia da competição que objetivava a preparação de novos jogadores hoje é vista como algo sem qualquer importância. Com certeza este aspecto deve ser observado por treinadores, dirigentes, mídia e publico quando se cobra uma melhor atuação do tênis brasileiro no cenário internacional. Pois parece óbvio dizer, mas é uma verdade: todo profissional nasceu amador! 

Henrique Terroni Filho; 1ª classe da Federação Paulista; participou de competições oficiais nacionais e internacionais até meados de 1970. Professor de tênis para adultos e crianças há 25 anos. Autor do Programa "Tênis: terapia para crianças"; em conjunto com psicólogos. Consultor para clubes e academias nas áreas administrativa; financeira e técnica. Formação em Administração de Empresas; pós-graduação em Administração Financeira e Marketing; curso em Psicologia do Esporte.

hterroni@ig.com.br


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