veram sucesso, seja no campo pessoal ou profissional, há um aspecto comum a quase todas. É a coragem, a ousadia, características que as fizeram ir além da grande maioria. No esporte, competitivo ou recreativo, é indiscutível que o progresso e a vitória, mais cedo ou mais tarde, sorrirá aos que demonstram coragem e ousadia.
Recentemente, em visita a um clube, tive a oportunidade de observar dois jovens, 14, 15 anos, preparando-se para um bate-bola. Sempre curioso, curiosidade que já me proporcionou boas observações e matérias, fiz algumas perguntas aos jovens e fiquei sabendo serem ambos federados, participando de competições e amigos há longa data.
Decidi observar um pouco o treinamento. Iniciaram um bate-bola e constatei que ambos possuíam uma batida forte, vigorosa, com bolas rápidas e longas. Alternavam batidas chapadas com slice e spin, usando as cruzadas e paralelas com relativa desenvoltura. Foram à rede e ficou claro que ambos conheciam os fundamentos, com voleios e smashes fortes, eficientes e bem direcionados. Após uma rápida troca de bolas, decidiram jogar um set, não sem antes procederem a um aquecimento do saque, fundamento que nada ficou a dever aos demais. Sacaram forte, bem colocado, com ótimo aproveitamento.
Iniciado o set, mais uma vez a decepção. Situação já presenciada tantas vezes. As batidas fortes, bem colocadas, longas, os direcionamentos em cruzadas e paralelas, foram substituídas por golpes medrosos, lentos, no meio da quadra, evitando-se riscos da bola sair pelas laterais ou no fundo. Saques medíocres, a bola sendo "empurrada" para o outro lado. Braços presos, expressões tensas, irritação a cada ponto banal perdido. Estava claro que não estavam treinando e sim jogando um jogo em que nenhum dos dois admitia perder.
Lembrei-me de uma conversa com um treinador norte-americano que acompanhava sua equipe em um Banana Bowl realizado em São Paulo, anos atrás. Disse-me ele que conscientizar os jovens tenistas nos EUA a portarem-se como vencedores, jogando com ousadia e sem medo de perderem era uma das mais importantes atribuições dos professores americanos.
O que leva crianças e adolescentes, numa fase inicial de aprendizado e evolução, ao jogarem um simples set de treinamento ou em competição, a ficarem tensos, inseguros, com medo exagerado de perder um ponto? E a ficar empurrando" a bola para o outro lado, sem nenhuma atitude de coragem, criatividade e ousadia?
A resposta é clara: pressão. Real ou imaginária, própria ou dos outros. Isto acontece predominantemente nos clubes. Nas academias é mais rara, as relações pessoais, quando existem, são rápidas e formais. Geralmente, enquanto um está entrando o outro está saindo. Quase não existe a competição, a comparação. Quase sempre as aulas e treinamentos são individuais e, quando não, os participantes não criam laços ou vínculos.
Nos clubes, onde atualmente se concentra a grande maioria dos jovens que estão aprendendo ou aperfeiçoando seu tênis, a situação é diferente. Todos se conhecem, muitos estudam e fazem outras atividades juntos. As famílias são amigas ou se conhecem. Estas aproximações, consciente ou inconscientemente, bloqueiam os jovens nos treinamentos ou jogos pelo receio de fazer um "mau papel" perante os colegas, professores e familiares. Muitas vezes os familiares favorecem estas atitudes, acompanhando exageradamente todo e qualquer treinamento dos filhos, quase que, veladamente, exigindo vitórias e resultados.
Compete aos professores corrigir esta situação. Observando seus alunos e, com sensibilidade e competência, detectar aqueles que começam a desenvolver um tênis medroso, sem criatividade ou ousadia. Explicar claramente o que é controle, regularidade, estratégia, e que estas qualidades não combinam com o medo. Executar treinamentos específicos, em que a coragem é permanentemente exercitada. Suspender treinamentos ou jogos em que os jogadores estão retraídos, medrosos.
Desta forma, pode-se criar uma geração de tenistas que jogue com coragem, ousadia e criatividade, características dos campeões. E, ao perder um jogo, será por que o adversário foi melhor tecnicamente e não porque o corajoso venceu o medroso.
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Henrique Terroni Filho; 1ª classe da Federação Paulista; participou de competições oficiais nacionais e internacionais até meados de 1970. Professor de tênis para adultos e crianças há 25 anos. Autor do Programa "Tênis: terapia para crianças"; em conjunto com psicólogos. Consultor para clubes e academias nas áreas administrativa; financeira e técnica. Formação em Administração de Empresas; pós-graduação em Administração Financeira e Marketing; curso em Psicologia do Esporte.
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