o coragem para crescer", publicada em 14/07/2008, atestada pelos inúmeros e-mails recebidos de todo o Brasil e do exterior, deixou claro que o assunto desperta as maiores atenções e é permanentemente atual, seja numa fase inicial de aprendizado ou numa situação mais avançada.
Na matéria, enfoquei o assunto nos jovens, mas pelas mensagens recebidas ficou claro que a problema atinge os amadores, independente de faixa etária. Nesta matéria, uma extensão da anterior, procurarei aprofundar mais o assunto.
Sabidamente o tênis, na sua condição de esporte individual, contrariamente aos coletivos, faz aflorar com mais facilidade nossas emoções, temores e a permanente necessidade que temos de mostrar que nossas qualidades sobrepujam e mesmo anulam nossas deficiências e falhas. Vivemos numa sociedade altamente competitiva, em que, em qualquer segmento, somente o vencedor, o melhor, é valorizado. No esporte isto fica claro. É folclórica a falta de reconhecimento que o brasileiro dá ao vice-campeão, em qualquer esporte, chamando-o jocosamente de "o melhor entre os últimos".
O tenista amador ao entrar na quadra, seja para um jogo de fim de semana com o amigo, o ranking do clube ou academia ou para um jogo oficial, leva consigo toda esta história, este inconsciente coletivo. A vitória passa a ser uma obsessão, a ser atingida a qualquer preço. Para tanto, limita-se a jogar bolas para o outro lado. Diferentemente dos treinamentos, a técnica, estratégia, ousadia e criatividade ficam de lado e a única preocupação restringe-se ao não errar, mesmo que isso revele um jogo medroso, que na realidade não dá nenhum prazer.
Para que isto não ocorra, é fundamental que o tenista incorpore ao seu jogo um quesito a mais: a humildade. Adotar a atitude inteligente de reconhecer que ganhar ou perder o jogo com o amigo, o desafio no clube ou academia ou o jogo federado não é a coisa mais importante do mundo. Admitir que é um amador, que não precisa provar nada a ninguém e não ter a prepotência de achar que é o centro das atenções e que há uma platéia assistindo-o e julgando-o.
Adotando esta linha de pensamento, treinando a mente como ele treina o
forehand e
backhand, o tenista entrará na quadra mais relaxado e fará um jogo com mais ousadia e criatividade. Ganhando ou perdendo, ficará mais satisfeito com seu desempenho.
Na criança, na maioria dos casos o medo é resultado das comparações com outras crianças e também da necessidade de "ser o melhor", de não ficar em desvantagem com os colegas. Lamentavelmente esta pressão, na maioria dos casos, vem dos próprios pais. Conscientemente ou não, "grudam" nos filhos, acompanhando-os tanto em competições como num simples treinamento ou no bate bola com amigos. Manifestam claramente seu desagrado quando a criança erra um fundamento e irritação quando perdem um jogo. O filho treina e joga olhando para os pais e manifesta seus temores ao vê-los gesticulando ou falando. Passam a "empurrar" bolas para o outro lado com receio de errar. O medo já está tomando o lugar da coragem, ousadia e criatividade, características dos vencedores.
Mais uma vez, compete ao professor dar um paradeiro nisto. Evitar que a criança que está a seus cuidados se transforme em um tenista medroso. O primeiro passo é conscientizar os pais, de uma forma profissional, que o excessivo acompanhamento, a cobrança velada, está sufocando a criança, tornando-a medrosa. Enfatizar que apoio, incentivo, é diferente de pressão. E nos treinamentos, incentivar e premiar a ousadia, a coragem, deixando sempre claro que o "ganhar" no treino não representa nada!
Mostrar que os grandes campeões chegaram ao topo com muito treinamento, dedicação e, principalmente, coragem. Que o medo e o sucesso não combinam. Como sempre dizia meu pai, quando notava que eu estava "segurando" o braço: "O medo do erro... leva ao erro!"
Dúvidas? Sugestões? Sua opinião é muito importante: hterroni@ig.com.br
Henrique Terroni Filho; 1ª classe da Federação Paulista; participou de competições oficiais nacionais e internacionais até meados de 1970. Professor de tênis para adultos e crianças há 25 anos. Autor do Programa "Tênis: terapia para crianças"; em conjunto com psicólogos. Consultor para clubes e academias nas áreas administrativa; financeira e técnica. Formação em Administração de Empresas; pós-graduação em Administração Financeira e Marketing; curso em Psicologia do Esporte.
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