Instrução | Melhore seu jogo
Nishikori foi preparado para ser número 1
Por Gabe Jaramillo
05/09/2014 às 10h24

De tempos em tempos, não muito frequentemente, um atleta cheio de talento aparece, mas também inteligente, gentil e trabalhador. Eu me lembro nitidamente da primeira vez que o vi em Tóquio em uma seletiva da Fundação Morita e soube imediatamente que ele era especial. Sempre me empolga quando tenho a oportunidade de preparar com um jogador que me força a trabalhar duro como treinador. Kei Nishiikori tem essa attitude, o que me deu satisfação e motivação para levá-lo ao topo.

Kei estava na trilha para ser o número 1 do mundo. Sempre disse, e ainda digo, que para ser um bom técnico, você tem de ter três coisas: 1. uma boa esposa; 2. uma equipe leal; 3. um jogador incrivelmente talentoso. Kei era o tipo de jogador com que todo técnico sonha.


Perfil

Caracterísitcas de Kei, o campeão:

- Nascido campeão: campeões nascem assim, não são feitos, e Kei nasceu um campeão.

- Presença: Kei tem uma presença que é maior que a vida. Ele tem um andar elegante, costas retas e emite uma aura de confiança.

- Atitude profissional: desde cedo, Kei tem tido uma atitude muito profissional quanto ao seu trabalho.

- Atenção ao detalhe: Kei presta muita atenção à técnica, tanto em termos de golpes quanto de movimentos.

- Melhoria total: Kei constantemente queria melhorar em todos os aspectos: técnico, físico e mental.

- Clareza: Kei sempre mostra tremenda clareza durante seus treinos e jogos.

- Perseverança: Kei trabalhou extremamente duro todos os dias com metas específricas na cabeça.

- Exigente: Kei sempre nos forçou a trabalhar mais duro. Apoiado por sua ética de trabalho, Kei exigia bastante da equipe técnica.

- Compreensão do jogo: Kei conhece seu estilo de jogo e pode imaginar e explorar as fraquezas de seu adversário rapidamente.

- Gosta de competição: Kei ama o tênis e ele vive a competição.

- Não tem medo: Kei joga sem medo algum. Campeões são geralmente muito agressivos e aproveitam imediatamente as oportunidades.

- Força mental: Positivo, auto-confiante e independente

- Metas elevadas: Kei sempre estabelece metas elevadas para si. Quando veio pela primeira vez aos Estados Unidos, não falava inglês. A única coisa que ele podia falar em inglês era que seu objetivo era ser número 1 do mundo.

 

O plano

Em 1983, eu introduzi a periodização no mundo do tênis. Fui o primeiro técnico a usar isso no tênis e como resultado de seu uso com o primeiro grupo de jogadores, Jim Courier ganhou o Aberto da França em 1991.

O Programa de Periodização de Kei foi baseado em um plano simples que dividia o programa geral de treinamento em diferentes períodos ou blocos de treino que foram chamados: Fase Técnica, Fase Pré-competição, Fase de Competição e Descanso. Isso permitiu progressos passo a passo, mês a mês, ano a ano. Kei pôde fazer grandes progressos divertindo-se, evitando contusões e mantendo-se bem fisica e mentalmente.

Seu programa começou com sua meta em um distante longínquo e então trabalhando para trás até o presente. Seu objetivo era ser nº 1 do mundo aos 22 anos. Para isso, primeiro enfatizamos conseguir um alto ranking como juvenil. Nosso primeiro objetivo era que Kei fosse um top 10 juvenil aos 17 anos e nosso primeiro alvo era a classificação para a chave juvenil do Aberto da França. A segunda meta era ser um top 100 da ATP aos 18 anos. O plano, que geralmente é chamado de Blocos de Treino, exigiu horas de planejamento e monitoramento constante. Foram feitas várias mudanças em ocasiões diferentes para ajustar.

 

Dos 13 aos 15 anos

Kei tinha 13 anos quando veio para ficar em tempo integral na academia. Não falava inglês e era muito quieto e introvertido. Só sabia dizer seu nome e, se alguém perguntasse qual sua meta, ele diria: “Número 1 do mundo”. Pedi para ele escrever isso e colocar no espelho do quarto para poder ver todos os dias.

Um dos objetivos para os estudantes era entender o estilo de vida americano sem perder suas raízes japonesas. Aprender a cultura, mas também poder jogar em todos os pisos e contra jogadores de vários países.

Kei tinha bom forehand e backhand. Seu trabalho de pés era fenomenal, mas o serviço e voleios eram fracos. Minha principal preocupação era o seu saque que, para um garoto de 13 anos, era um golpe de iniciante. Sabia que meu maior desafio seria melhorar o saque de Kei.

A meta nesse período era desenvolver uma forte base e sólidos fundamentos. Não deixei ninguém tocar nos seus golpes. O garoto era muito talentoso e tinha seus golpes únicos. Na direita, ele não antecipava o golpe. Ao invés disso, mantinha a mão esquerda na raquete e esperava mais tempo, mas ao mesmo tempo acumulava mais energia elástica. Uma das melhores coisas que ele fazia naturalmente era a incrível liberação rápida daquela energia elástica no movimento para a frente. Essa energia liberada dava-lhe vantagem na batida com bastante força, pela transferência da energia cinética do solo para a raquete.

Ele também tinha um swing muito bom e uma rápida pronação ao contato. Kei tinha só 13 aos, mas deixei claro a todos que eu era a única pessoa que iria mexer nos seus golpes. Ele treinava três horas por dia, no mínimo, e seus treinos eram muito individualizados. Ele também passou muito tempo praticando no saibro naquela época. Queria que Kei treinasse duas vezes por dia porque ele estava frequentando a escola.

Kei teve bastante atenção individual nesse estágio. Passamos muito tempo desenvolvendo a velocidade com a raquete, com voleios, com bolas lançadas. Nesse período também trabalhamos muito os fundamentos do serviço.

Até os 15 anos, ele estava jogando principalmente nas quadras do fundo da academia, nós o protegíamos bastante. Certo dia, eu o fiz jogar contra Philip Bester na frente de toda a academia. Philip era um ano mais velho, mais alto e mais forte, um dos melhores juvenis do mundo e parte da elite da academia. Sabia que ele estava pronto e marquei a partida, que foi bem divulgada. Kei fez uma exibição incrível, arrasou Philip na frente de todos. O que mais me lembro é a devolução de saque de Kei, apesar de Philip ter um grande serviço. Mas Kei pulverizou o saque com sua devolução. Após aquele jogo, mudou completamente. Passou a treinar com o grupo de elite, nas melhores quadras, longe da proteção da equipe japonesa. Às vezes, os jogadores precisam de uma boa vitória para começar a acreditar. Este foi o caso, e este foi seu primeiro passo para o estrelato.

 

Exercícios de Kei nesta idade:


Exercício 1 – Movimento de lançamento e saque

Objetivo:
A. Aprender o movimento correto do lançamento
B. Concentração na parte superior do corpo
C. Ter um braço de lançamento solto e relaxado
D. Boa soltura, enfatizando a pronação

Execução:
A. Uso do futebol americano
B. Kei lança a bola de futebol de volta e para o treinador
C. No início, eles lançavam a bola da linha de serviço para a linha de serviço por cerca de 20 minutos

 

Exercício 2 – Movimentos curtos no saque

Objetivo:
A Simplificar a forma como Kei trazia a raquete para trás
B. Mudar a empunhadura de Eastern para Continental
C. Concentrar na parte superior do corpo
D. Ênfase na posição
E. Garantir a posição ideal da raquete no movimento

Execução:
A. Começar com a raquete alta
B. Foco no contato com a bola
C. Posição de pernas, quadrias e ombro na rotação
D. Grande ênfase no movimento de lançamento



Exercício 3 - Velocidade da cabeça da raquete nos golpes de fundo

Objetivos:
A. Aumentar a velocidade da cabeça da raquete nos golpes de fundo
B. Trabalhar na pronação depois do contato
C. Aceleração

Execução:
A. Bolas lançadas manualmente da linha de fundo
B. Uma cesta inteira de bolas foi lançada na direita, na altura da cintura, rapidamente
C. No começo,15 bolas por vez. Quando ficou mais velho,.30 bolas lançadas com rapidez
D. Fundamental para Kei preparar os golpes corretamente
E. Depois de terminar a cesta da direita, Kei continuava a fazer a mesma coisa na esquerda

 

Exercício 4 - Swinging-volley

Objetivos:
A. Melhorar a velocidade da cabeça da raquete
B. Trabalhar na pronação depois do contato
C. Aumentar a aceleração

Execução:
A. Lançamento manual da bola, alta e fácil de bater
B. Kei dentro da linha de base
C. Iniciando com o forehand, de início 10 bolas por vez. Quando Kei ficou mais velho, 30 bolas por vez
D. As bolas eram lançadas rapidamente
E. Muita ênfase na execução do golpe, boa preparação, preparação curta num movimento circular com finalização alta do golpe.
F. Depois de terminar com o forehand, Kei fazia a mesma coisa no backhand.

 

Na próxima semana, mostraremos o treinamento de Nishikori para a fase dos 18 anos

Gabe Jaramillo treinou 8 jogadores que chegaram ao número 1 e 26 que figuraram no top 10, como Agassi, Courier, Sampras, Seles, Sharapova, Nishikori, Haas, Lisicki e André Sá, indo a todos os Grand Slam. Trabalhou com Nick Bolletieri de 1985 a 2009. Atualmente é diretor do Club Med Academies, na Flórida. Desenvolveu o Método de Treinamento Periodizado.
www.gabejaramillo.com

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