Dando sequência ao artigo anterior, em que mostrei a chegada de Kei Nishikori a nossa academia e o começo do trabalho (clique aqui e veja), vou abordar agora o treinamento especial que adotamos para ele a partir dos 15 anos.
Eu não concordava com Toru (técnico enviado pela Fundação Morita) quanto ao isolamento dos jogadores japoneses. Eu achava que manter os japoneses entre eles, fazendo tudo juntos, não dava a chance de aprender sobre outras culturas e fazer novos amigos. Mais importante, achava que o isolamento os impedia de se beneficiar da competição com jogadores de outros países com vários estilos de jogo.
Toru era um professor muito bom e bom com os fundamentos, mas em minha opinião falhou ao não ver a importância de ter variedade na competição. Decidi que era hora de fazer uma mudança. Falei com o Sr. Morita e muito respeitosamente pedi para considerar a substituição do técnico Toru. Ele já tinha completado seu ciclo, feito um bom trabalho de base, mas era hora de um novo treinador para dar impulso aos alunos.
O Sr. Morita e sua Fundação são muito profissionais e eles tiveram de pesar as consequências da mudança e também as repercussões para a entidade e para os alunos. Levou um mês para a Fundação apoiar minha ideia e mudar o técnico. Conforme expliquei para a Fundação, meu trabalho não era ter técnicos ou estudantes como eu, mas produzir campeões e, às vezes, como líder, tinha de tomar decisões difíceis.
Com o apoio do Sr. Morita e da Fundação, eles enviaram o técnico Natsuo Yamanaka. Para evitar os mesmos erros que cometi nos dois primeiros anos, tive uma reunião com Natsuo assim que ele chegou na academia e ambos concordamos que a melhor forma de desenvolver os jogadores era que se envolvessem na programação geral da academia ao mesmo tempo em que tinham uma atenção individualizada. Também deixei claro que o progresso dos alunos era minha responsabilidade.
Naquela altura Kei estava jogando muito bem, então pedi ao Sr. Morita um técnico pessoal para viajar com Kei. O técnico que selecionei e foi aprovado pelo Sr. Morita foi Cesar Castenada, do Peru, com muita experiência no circuito juvenil. Ao mesmo tempo, o Sr. Morita contratou Yutaka Nakamura como preparador físico de Kei e nós também contratamos um professor de ioga para ele. Nesse estágio, uma equipe envolvia Kei. A meta imediata era poder disputar o Aberto da França. Quando tinha 17, a meta era ser um top 10 juvenil.
Cesar fez um trabalho muito bom. Uma das melhores coisas que fez por Kei foi garantir que ele treinasse com os melhores juvenis nos vários torneios. Kei também foi parceiro de treino de muitos jogadores bem ranqueados na ATP durante os torneios juvenis de Grand Slam, na segunda semana da competição, quando a maioria deles já foi eliminada e os remanescentes não têm com quem treinar e aquecer. Foi assim que uma vez ele teve a oportunidade de aquecer Nadal no Aberto da França. Nessa época, aprendeu a enfrentar diferentes jogadores, diferentes estilos, variados spins, velocidades, superficies, altitudes e que podia competir com qualquer adversário bem ranqueado. Ele não mais os via como melhores que ele, sabia que ele estava no mesmo nível de habilidade de jogo.
Kei estava ficando muito forte e seus ombros e a parte inferior do corpo estavam incrivelmente bem construídos. Sua velocidade tinha melhorado dramaticamente. Agora treinava quatro horas por dia em quadra e mais duas horas de condicionamento físico. Um dia de treino tinha geralmente seis horas.
Aos 16 anos, jogando diante do Sr. Morita, Kei ganhou o título de duplas do Aberto da França. Infelizmente, ele sofreu uma contusão estomacal que o fez perder nas quartas de final em simples. Eu acredito que teria também ganhado o título de simples, não fosse essa lesão. Nós tínhamos cumprido os objetivos e nossas metas.
Kei aprendeu a ter confiança em si e em suas habilidades. Quando viajávamos no circuito ITF ele continuou treinando com diferentes jogadores. Isso o capacitou a aprender como enfrentar diferentes estilos de jogo. Uma de minhas principais metas foi fazê-lo um pensador independente, fazer com que fosse capaz de treinar a si mesmo mais tarde.
Treinamento de Kei entre 15 e 17 anos
Exercício 5 – Segundo serviço
Objetivos:
A. Desenvolver um saque com spin (kick serve);
B. Mudar a empunhadura do backhand de continental para eastern;.
C. Garantir que Kei tivesse um segundo saque confiável, consistente e difícil de atacar.
Execução:
A. Kei começou a sacar em um ponto próximo da area de duplas;
B. Toss atrás dele (na posição de 11 horas);
C. Contato na parte superior da bola
D. A meta de Kei era que a bola atingisse a tela lateral, com trajetória alta depois do quique
E. Ele treinava esse saque todos os dias por 20 minutos.
Exercício 6 – Devolução de saque
Objetivos:
A. Desenvolver uma devolução agressiva do serviço;
B. Este golpe tinha de ser também consistente e bem confiável;
C. Trabalhar na altura e profundidade;
D. Devolução antecipada e forte para tirar tempo do adversário.
Execução:
A. Treinador sacando da linha de serviço;
B. Kei sentia-se confortável devolvendo bem perto da linha de base;
C. Boa base atlética;
D. A bola era servida primeiramente para o lado do forehand e depois de um tempo para o lado do backhand;
E. Kei devolvia a bola mirando o centro da quadra, mas batendo alto e pesado;
F. A duração deste exercício era de no mínimo 20 minutos por dia.
Exercício 7 - Forehand
Objetivos:
A. Kei é um agressivo jogador da linha de base, gosta de ditar os pontos, esperando a chance de finalizar o ponto com sua arma, o forehand;
B. Desenvolver o forehand;
C. Qualquer coisa dentro da linha de fundo, Kei rebateria de forehand
D. Pegar a bola antecipadamente, com força e controle.
Execução:
A. Repetição do movimento
B. Posição do treinador atrás da linha de saque
C. A bola é mandada alto e curta, entre a linha de saque e a linha de fundo;
D. Bolas mandadas na direita e na esquerda. Kei tinha de ir atrás de todas as bolas na esquerda e executar uma direita. Durante o exercício, não importando onde a bola era mandada, o jogador tinha de bater apenas forehands;
E. Kei tinha de golpear antecipadamente, forte e com precisão.
Exercício 8 – Ângulo dos golpes
Objetivos:
A. Desenvolver a velocidade da cabeça da raquete
B. Abrindo a quadra
C. Melhorando as passadas.
Execução:
A. Repetição do movimento
B. Treinador alimentado bolas de dentro da linha de saque;
C. Quinze bolas por vez eram alimentadas primeiro no forehand na seguinte sequência: perto da rede, na linha de saque, entre a linha de saque e a linha de fundo, na linha de fundo.
D. A mesma sequência era feita no lado do backhand.