São Paulo (SP) - Diante da possibilidade de os torneios sul-americanos trocarem o piso de saibro pela quadra dura visando atrair os primeiros colocados, o dominicano Victor Estrella Burgos mostra preocupação com a ideia que foi muito discutida na semana passada durante o Rio Open. Caso o ATP 500 carioca mude de piso, as competições em Quito, Buenos Aires e São Paulo devem acompanhá-lo.
Vencedor de três edições do ATP de Quito e prestes a estrear no Brasil Open, na capital paulista, nesta terça-feira o atual 88º do ranking acredita uma eventual mudança seria injusta com jogadores que têm seus melhores resultados nesta época do ano.
Em entrevista ao TenisBrasil, o veterano jogador de 36 anos comentou sobre as razões de seu jogo ser tão eficiente em quadras de saibro e condições de altitude, lamentou sua primeira ausência de uma confronto na Copa Davis em 18 anos e revelou o interesse de ter uma academia e trasmitir seu conhecimento e experiência para os jovens jogadores de seu país.
As três vitórias sobre Thomaz Bellucci no Equador e a dura derrota para Bernard Tomic no Australian Open deste ano também foram abordadas pelo experiente dominicano, que reitera o desejo de continuar no circuito por muitos anos, enquanto sentir que ainda poderá continuar em alto nível.
Confira a entrevista completa.
Fale um pouco sobre as condições de São Paulo com saibro e um pouco de altitude. São condições onde você teve bons resultados. O quanto isso favorece o seu jogo?
Estou aqui desde sexta-feira e as condições são boas, eu gosto. É um pouco rápido e faz um pouco de calor e agora é só esperar para entrar em quadra e fazer o melhor possível e pensar jogo a jogo, como sempre penso em cada torneio.
O que você acha que fez seu jogo tão eficiente em Quito, onde você conseguiu três títulos seguidos?
Eu creio que antes de jogar em Quito, eu já havia jogado outros torneios na altitude em Bogotá, Medellín, no México, e inclusive alguns challengers em Quito com o tempo eu fui me adaptando e descobrindo como jogar de maneira efetiva e, na verdade, descobri como jogar bem na altitude. Eu me sinto bem cada vez que jogo o torneio de lá. São três anos consecutivos com título, me sinto cômodo, sei o que fazer e sei que posso bater forte na bola e que mesmo assim ela irá cair dentro da quadra.
Nos seus três títulos você venceu o Thomaz Bellucci. O que você acha que faz seu jogo encaixar tão bem contra o dele?
Cada vez que jogo com Thomaz, sei que é uma partida bastante difícil. Ele é um jogador de muito nível técnico. É claro que em Quito eu sei como jogar, sei o que fazer para acelerar a bola e nas três vezes que jogamos lá foram muito duros, partidas muito complicadas e eu pude vencer, estava em momento muito bom. Creio que o enfoque na partida é não lhe dar os pontos-chave e definir o jogo.
Com três títulos conquistados durante essa temporada de saibro sul-americana de fevereiro, qual a sua opinião sobre as possíveis mudanças de piso desses torneios?
Para mim, esses torneios deveriam continuar no saibro. A temporada em quadras duras é muito longa e creio que a gira sul-americana tem bom nível. Bons jogadores vêm para cá. Vieram Thiem, Nishikori, Ferrer, Cuevas e um sem número de jogadores. Não é justo mudar porque tem jogadores de bom nível também no saibro, são quatro torneios consecutivos e para mim não deveriam trocar.
Você é um ídolo em seu país e provavelmente só pode jogar lá durante a Copa Davis. O que você acha sobre as possibilidade de mudanças na disputa?
Depois de 18 anos jogando a Davis por meu país, este ano eu não poderia jogar porque coincidia com Quito, porque aconteceu no fim de semana anterior. Para mim, não era justo jogar em quadra dura até o domingo e jogar no saibro a partir de segunda-feira, por isso não pude jogar.
Penso que a Davis tem que definir suas datas durante todo o ano e cabe ao jogador decidir se joga ou não, se lhe convém jogar. Lamentavelmente eu não pude defender a República Dominicana e me doeu muito não poder jogar, porque perdemos contra o Chile e a prioridade era defender o título em Quito.
Como você imagina o futuro do tênis em seu país? O quanto os três títulos que você conquistou podem contribuir?
Não somente os três títulos de Quito. Creio que a trajetória da minha carreira, estive com meu melhor ranking no 43º lugar, estou há quatro anos no top 100. A República Dominicana nunca teve um jogador neste nível e com certeza minha carreira vai contribuir para que no futuro mais meninos queiram jogar tênis. Estamos melhorando e já temos alguns jogadores com ranking, desde 250 até 1.000, interessados e bastante entusiasmados e creio que sem duvida minha carreira desperta interesse nos jovens
Você se imagina como técnico no futuro?
Minha meta é transmitir minha experiência e aprendizado no circuito aos jovens que estão começando a jogar e que estão começando a explorar o mundo do tênis profissional. Sem dúvida no futuro a meta e ter uma academia e treinar jogadores que tenham talento para seguir a carreira profissional.
Na última vez que conversamos, durante o Challenger Finals de 2014, você havia acabado de disputar seu primeiro Grand Slam e tinha como metas chegar no top 50 e entrar direto nas chaves dos Masters 1000. Você conseguiu as duas coisas. Quais são os objetivos agora?
Meu objetivo este ano é voltar ao top 50. Graças a Deus vamos por um bom caminho. Até agora temos feito muitos pontos e, se as coisas seguirem bem e eu tiver bons resultados, provavelmente em quatro meses estarei dentro do top 50. Este é meu objetivo imediato, além de me manter no top 100.
Como é pré-temporada de um jogador de 36 anos e por quanto tempo você acredita que poderá continuar em alto nível?
Minha pré-temporada é bastante particular. Tenho 36 anos, mas eu me mantenho bem fisicamente. Tive muito enfoque no treinamento físico na pré-temporada. Este ano trabalhei por um mês e meio antes de ir para a Austrália. Foi um mês e meio de preparação muito forte para poder fazer uma boa série de torneios e estar bem fisicamente.
Faço uma pré-temporada como qualquer outro tenista e, para mim, 36 anos é só um número. Fisicamente estou muito bem enão tenho lesões. Não estou pensando sobre quanto tempo mais eu vou jogar. Se eu estiver em bom nível e continuar no ranking, vou continuar por muitos anos.
Você falou na Austrália. O quanto doeu aquela derrota para o Tomic [em quatro sets, pela segunda rodada em Melbourne]?
Foi uma derrota muito dura, segunda rodada muito dura contra Tomic onde tive muitas chances. Liderei o primeiro set por 5/4 sacando, depois no quarto set eu tinha 4-3 no tiebreak e duas direitas escaparam. São derrotas em que você aprende e tira coisas positivas. A parte positiva daquele jogo foi o grande nível de disputa durante os quatro sets, foi uma partida de 3h20 bastante intensa. Apesar da derrota, tirei uma coisa positiva que foi constatar que estou em bom nível.