Notícias | Dia a dia | Rio Open
Aos 34, Rogerinho ainda acredita em crescimento
22/02/2018 às 07h30

Rogerinho ainda sonha com saltos maiores

Foto: Fotojump
Felipe Priante

Rio de Janeiro (RJ) - Eliminado na primeira rodada do Rio Open, deixando escapar uma vitória encaminhada contra o espanhol Albert Ramos, o paulista Rogério Silva sabe que o resultado não foi o que gostaria, mas graças ao seu otimismo a derrota ficou no passado. Aos 34 anos de idade, o atual número 106 do mundo acredita que ainda pode crescer no circuito.

"Fiz 34 anos agora e me sinto com 29 ou 30. Mesmo assim tem muita coisa que comecei a vivenciar só agora, pois tive um caminho completamente diferente da maioria dos jogadores", disse o segundo melhor do país na ATP em entrevista exclusiva a TenisBrasil.

Renovado após o nascimento da filha, Rogerinho acredita que a paternidade mexeu positivamente com ele. "ganhei uma maturidade que é difícil explicar. Minha família e minha filha são as coisas mais importantes que eu tenho. Depois de minha última partida, saí meio nervoso de quadra, mas aí você chega em casa e sua filha dá uma risadinha e está tudo bem", revelou.

O paulista falou também sobre a divergência com o capitão João Zwetsch na repescagem da Copa Davis no ano passado, garantiu que não ficou problema algum entre eles, mas coloca que a competição não é mais uma prioridade para ele.

Um dos representantes nacionais nos Jogos Olímpicos do Rio, ele lembrou com carinho de sua participação e a colocou com ponto alto de sua carreira. Em contrapartida, Rogerinho lamentou o descaso com o Parque Olímpico, que desde os Jogos praticamente não foi utilizado e segue apenas com planos e sem ações mais concretas.

Qual sua avaliação destes dos primeiros meses de circuito?

Vou te falar que estou tranquilo em relação a ranking, porque venho jogando torneios fortes e estou em um nível que buscava há muito tempo. Isso não é fácil. Venho jogando bem em lugares que não conseguia e isso me deixa tranquilo mesmo com o ranking caindo um pouco. Acredito que posso voltar à marca do ano passado. Essa experiência de estar com os caras no circuito, competindo, jogando contra e ganhando set deles faz com que te olhem diferente.

Nesses últimos anos você tem conseguido jogar mais torneios ATP. O quanto ter contato com jogadores deste nível te faz crescer?

Eu não consegui fazer muito isso antes por falta de patrocinador e toda aquela história que já conhecem. Hoje tenho minha equipe com quatro ou cinco pessoas, mas para chegar nesse ponto não foi fácil. Por isso estou tranquilo, pois venho trabalhando em todas as áreas. Estar com esses caras é que te faz crescer e melhorar de nível. Se você ver contra quem estou jogando dá para ver que tenho enfrentado bons jogadores e mesmo perdendo tenho feito bons jogos.

Cada vez mais essa questão da equipe está importante no circuito. Você apostou primeiro nisso para colher os frutos ou só depois de conseguir bons resultados é que aumentou o time?

Eu sempre soube que precisava, que sem uma equipe não iria chegar a lugar algum. Só que uma coisa puxa a outra, dependendo do seu ranking você consegue chegar até um certo nível de treinador e preparador físico. Sempre tentei puxar mais, contratando alguém que pudesse me ajudar a crescer e cada vez mais vou agregando. Claro que se tivesse condições melhores antes eu teria feito isso mais cedo e provavelmente seria outra coisa. É uma situação que o ranking ajuda, se você sobe e começa a entrar nos Grand Slam a premiação é outra e dá para investir mais em si mesmo. O nível está muito alto e parelho, é muito detalhe que faz diferença e sem eles a chance de chegar lá em cima é pequena.

Você demorou um pouco mais a conseguir alcançar uma boa condição e por isso acabou tendo uma maturação mais tarde. Isso é uma coisa que te incomoda?

Se eu tivesse lamentando todas as coisas que tiveram na minha carreira eu não estaria aqui. Sempre fui um cara de olhar para frente. Se hoje temos três bolas e um paredão, então vamos fazer o melhor com isso. Não tenho essa de lamentar "ai se tivesse isso ou se tivesse aquilo", mas claro que isso não tirou minha ambição de estar melhorando. Fiz 34 anos agora e me sinto com 29 ou 30. Mesmo assim tem muita coisa que comecei a vivenciar só agora, pois tive um caminho completamente diferente da maioria dos jogadores.

Com essa sua ascensão, teve alguma situação que te marcou, alguma situação diferente que você encarou pela primeira vez que gostaria de destacar?

As Olimpíadas foram uma coisa que marcou bastante, para ser sincero eu nunca imaginaria que poderia joga uma e ainda mais dentro de casa. O resto acabou sendo mais passo a passo. Primeiro queria jogar um Grand Slam, aí consegui. Depois o objetivo era passar uma rodada, então foi jogar Copa Davis e então venci um confronto com o Brasil. Sou um cara que gosta de desafios e sempre querendo melhorar, por isso não consigo falar até quando vou jogar, vai ser até quando tiver essa fome. Nunca fiz uma semifinal de um ATP, vou buscar isso ou até chegar numa final. Sempre vou me colocando objetivos.

No ano passado teve toda aquela questão de Copa Davis. Como está sua relação com o João (Zwetsch, o capitão da equipe)?

Isso é um capítulo que passou, não tenho problema nenhum com o João e sempre falei que a Copa Davis era uma coisa que queria ser lembrado. O episódio que aconteceu está no passado, não ficou nada com a equipe ou com a CBT. O importante é colocar o tênis sempre à frente. Em relação ao futuro é uma outra coisa que precisamos ver, pois passa por calendário e outras coisas. Sinceramente, hoje não penso muito mais na Davis, não. Acho que com a idade que estou e com essa molecada chegando... É uma coisa que tem que ser vista com o tempo.

Você parou uns meses para acompanhar o nascimento de sua primeira filha e quando voltou estava com um ranking lá embaixo, mas mostrava bastante otimismo. Essa visão positiva foi o que te levou a conseguir tudo o que veio desde então?

Com certeza. Foi isso e também aquilo que falei antes de não lamentar. Tenho que agradecer muito a minha mulher, minha família e minha equipe, que me abraçou nesse momento. Vi que se quisesse chegar onde queria eu precisava abrir mão de muita coisa: passar o Natal fora, não ter Ano Novo, filho doente e você em outro país. É uma questão de ambição e de buscar, pagar o preço.

A paternidade mexeu com a cabeça?

Eu ganhei uma maturidade que é difícil explicar. Minha família e minha filha são as coisas mais importantes que eu tenho. Depois de minha última partida, saí meio nervoso de quadra, mas aí você chega em casa e sua filha dá uma risadinha e está tudo bem. É uma coisa muito bacana e o gás que eu tenho de jogar é muito também para ela.

 

 

Segue o baile ...

Uma publicação compartilhada por Rogerio Dutra Silva (@rogeriodutrasilva) em

O que mudou com o passar da idade? Você alterou suas rotinas com o passar do tempo?

Seria interessante se você fizesse essa pergunta para a minha mulher (risos). Ela fala para eu relaxar um pouco, mas eu não consigo muito. Gosto de estar trabalhando e treinando. Outro dia foi a despedida do André Sá, o jantar foi num horário tarde e eu tinha coisas para fazer logo cedo no dia seguinte e infelizmente não consegui ir. Tenho uma rotina muito rígida de alimentação, horário de dormir. Até melhorei um pouco, tanto que só no ano passado que finalmente fui conhecer o Cristo Redentor.

Em relação a intensidade do treino muitos acham que você acaba fazendo menos, mas é justamente o contrário, venho fazendo mais coisas. Se não fizer isso a gurizada vem babando. Tem que trabalhar mais e cuidar mais do corpo. Graças a Deus nunca fui de ter muitas lesões e ter que ficar fazendo massagem, mas é claro que a idade vai chegando e você aprende que é importante também.

O que você faz no seu tempo vago durante os torneios?

Duas coisas que eu faço bastante é jogar PlayStation e tocar violão. Jogo Fifa e só isso, mais nenhum. Comprei um lá de carrinho, mas mal toquei. Fico jogando online, gosto do Tottenham e o pessoal fica me sacaneando porque é diferente.

No violão, o que você gosta de tocar?

Gosto de Rappa, Roling Stones, reggae brasileiro como Natirus. Eu precisava estudar violão, acabo mais pegando de momento e tocando. Também toco cavaquinho e gosto de tentar um samba, mas o pessoal é mais do rock. Antigamente iam uns amigos meus nos torneios que disputada e dava para fazer um sambinha com eles.

Isso é coisa mais de jogador de futebol...

Estou mais um pouquinho para o lado deles. Acompanho bastante futebol, mas jogar eu não posso para não arriscar. Adoro assistir e sempre fico torcendo para os brasileiros, tenho aplicativo aqui e recebo quando sai os gols. Também acompanho bastante do meu time (São Paulo), fico por dentro das contratações e tal.

Como é treinar na Argentina?

O Brasil é um país muito grande. Estou indo bastante para a Argentina e lá é muito menor, as coisas mais concentradas. Fica tudo concentrado em Buenos Aires, você vê e um fica 5 minutos de distância, o outro 10 e mais um a 15. Está todo mundo ali. No Brasil um é do Rio, o outro de São Paulo e mais um de Porto Alegre, como você faz? É difícil juntar todo mundo. Mas essa mudança vem acontecendo, você vê um Thiago Alves, um Júlio Silva trabalhando, temos mais ex-tenistas trabalhando no meio. Por outro lado, é difícil porque cada um tem sua vida, sua família e suas escolhas.

Você pensa no futuro em seguir esse caminho?

Vontade eu tenho muita de passar tudo isso que passei para a molecada, tentar encurtar o caminho e ajudar. Não sei se vai ser no Brasil ou não. Quem sabe quando eu parar, daqui uns quatro anos, esteja mais estruturado e eu possa dar minha contribuição. Tudo o que fiz até hoje eu tenho que acreditar, caso contrário eu não vou dar a cara a tapa para bater. Quem sabe até lá não tenhamos um centro de treinamento.

Ver o estado atual do Centro Olímpico, onde teve mais jogo de vôlei de praia do que de tênis, dá uma dorzinha no coração?

Dá uma facada no coração. Acho que aquilo ali tinha que ser de todo mundo e não só dos tenistas. O sonho de ter uma Olimpíada em casa era o legado, mas olhamos agora e não sobrou praticamente nada. É uma pena, infelizmente não está dando para fazer nada. Era uma oportunidade muito boa de tentar integrar os jogadores e ex-tenistas, uma coisa que vemos muito lá fora. Unidos somos muito mais fortes. É importante ter um lugar para todo mundo treinar junto, para a molecada ver o que o Thomaz (Bellucci) está fazendo, o que o (Thiago) Monteiro está fazendo.

Comentários