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Paula Vieira abre caminho para jovens árbitras
17/04/2020 às 15h50

Primeira brasileira na elite do circuito, ela tem ajudado outras candidatas que sonham trilhar o mesmo caminho

Foto: Bruce Adler/NJTL Bronx Open

Porto Alegre (RS) - Primeira árbitra da América Latina a conseguir a graduação Gold Badge, a máxima categoria, para o circuito feminino, a brasileira Paula Vieira tenta abrir o caminho para uma nova geração na elite do tênis mundial. Em entrevista para o site da WTA, a gaúcha de 38 anos falou sobre como escalou praticamente sozinha os vários degraus até o alto nível do circuito e de como tem ajudado outras brasileiras e latino-americanas a trilhar o mesmo caminho.

"Comecei a jogar tênis aos 10 anos em um clube que ficava a dois quarteirões de casa. Mas aos 16, eu já sabia que meu talento no tênis seria melhor usado em outras áreas, porque eu nunca gostei de competir, apenas de jogar e me divertir", disse Paula Vieira. "Vi algumas oportunidades em torneios na minha cidade e as pessoas da federação me diziam: 'Paula, você gostaria de ser árbitra?' e eu aceitei. Naquela época, eu nunca sonhava 'Quero me tornar uma árbitra de cadeira', mas a oportunidade estava lá".

Paula fez seus primeiros cursos de arbitragem aos 17 anos em 1999, ainda em Porto Alegre. Já em 2004, participou do curso da Federação Internacional de Tênis (ITF) em Buenos Aires. Dois anos mais tarde, conseguiu a graduação Bronze Badge ao concluir um módulo da ITF em São Paulo. Só então, ela começou a trilhar um caminho na WTA, por meio de um programa de formação de jovens árbitros.

"Quando eu comecei, éramos três: eu, a Cristina Romero do México (atual supervisora ​​da WTA), que era árbitra Silver Badge e havia uma árbitra Bronze Badge da Argentina. E a Cristina começou muito antes de nós. Então, na América Latina, eu cresci praticamente sozinha, o que não foi fácil. Agora, as meninas têm a mim como modelo. Estamos próximas, principalmente porque muitas são do Brasil. Falamos o mesmo idioma, então isso ajuda muito. Quero dar a elas a mesma oportunidade que me foi dada anos atrás".

"Sou mentora de uma Bronze Badge durante o ano. Então eu a ajudo a desenvolver suas habilidades, além de ser uma avaliadora de árbitros mais jovens durante os torneios. O programa de desenvolvimento da WTA está crescendo a cada ano. E agora acho que está muito bom. Acho que o número de árbitras mulheres em todo o mundo, especialmente na América Latina, é muito maior do que era há dez anos."

Vida de mãe no circuito 

Casada com o também árbitro brasileiro Fabio Souza, Paula se tornou mãe no ano passado. Sua filha Bethânia nasceu em março e fez com que a árbitra precisasse ficar um tempo afastada do ofício. Mas desde sua volta ao circuito, durante a última temporada de grama, ela tem conseguido viajar com a filha para os principais torneios. Paula é uma das três árbitras de cadeira que já são mães, juntamente com a sueca Louise Engzell e a grega Eva Asderaki-Moore, mas as outras duas são do quadro da ITF e atuam principalmente em Grand Slam, Copa Davis e Fed Cup.

"Estamos em contato. Quando eu estava em casa, elas me perguntavam como eu estava e como estava me sentindo. Elas estavam felizes comigo", comentou a brasileira. "Ninguém disse: 'Paula, você precisa voltar'. Essa escolha foi completamente minha. É a vida que eu conheço e a vida que eu gosto, e minha filha tem que fazer parte disso. Acho que foi completamente possível para mim, e para o bebê. Ela viajou conosco para oito eventos da WTA e dois Grand Slam no ano passado. Em quase todos os meses de sua vida, ela esteve em eventos de tênis. Felizmente, ela é um bebê calmo e fácil, não chora, e se dá bem com todo mundo".

"Existem outras árbitras que não querem ter filhos, e essa é a escolha delas, mas sei que há outras que gostariam de ter no futuro. Não são flores o tempo todo, e é cansativo, mas é bom estar no circuito com a Bethânia semana após semana para mostrar que é possível. Existem mães por aí que estão fazendo muito mais do que eu. Mas eu só quero mostrar que você pode ter um filho e continuar essa incrível carreira de ser uma árbitra de tênis".

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