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Brasileiras buscam espaço nos bastidores do circuito
08/08/2020 às 08h41

Carol Meligeni é uma das brasileiras que tem atuado para dar melhores condições nos bastidores

Foto: João Pires/Fotojump
por Mário Sérgio Cruz

Apesar de o circuito da WTA já ter recomeçado na última segunda-feira em Palermo, na Itália, e já ter mais uma série de eventos previstos pelo menos até outubro, as brasileiras ainda não têm uma definição sobre quando poderão voltar a competir por pontos no ranking. As medidas de restrição a viagens internacionais impedem que as jogadoras nacionais determinem um calendário de competições no exterior.

Pensando nisso, jogadoras como Beatriz Haddad Maia e Carolina Meligeni Alves tentam ganhar espaço nos bastidores do circuito. Nos últimos meses, elas formaram uma rede de apoio com outras companheiras de diferentes nacionalidades, especialmente as sul-americanas. A ideia é reunir atletas que estejam passando pelos mesmos problemas para que possam ter força na negociação por melhores condições nos torneios.

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"Temos um grupo com mais de 300 meninas no WhattsApp. Queremos voltar a jogar com oportunidade para todo mundo, não só para as que jogam os Grand Slam", disse Bia Haddad Maia ao TenisBrasil, durante o Vita Brasil Tennis Challenger em São Paulo. "Com as fronteiras fechadas, a gente não ia ter autorização para viajar, mas o ranking e a pontuação já estão liberados. E isso pode comprometer as pessoas que querem entrar para a Olimpíada e ou para os Grand Slam no futuro".

Uma campanha internacional lançada no início de julho ganhou o nome de 'No play if all can't play' (Não jogue se todas não puderem jogar) e pedia um adiamento no retorno das competições. Elas alegavam que as dificuldades para viajar e as poucas opções de torneios à disposição tornaria o circuito ainda mais desigual e reduziria as chances de muitas jogadoras subirem no ranking.

 
 
 
 
 
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A temporada recomeçou, mas uma mudança na pontuação agradou as jogadoras. Serão considerados os 16 melhores resultados em 22 meses, entre março de 2019 e dezembro deste ano. Na prática, elas não terão mais a necessidade de defender pontos obtidos no ano passado, mesmo que não sintam seguras para viajar ou que enfrentem restrições que limitem o calendário. Isso acaba evitando uma queda ainda mais brusca no ranking durante a retomada do circuito. 

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"Eu sou uma pessoa bem desapegada dessa questão de ranking. Prefiro pensar no que eu preciso fazer para melhorar o meu jogo e que o ranking é uma consequência disso, mas foi uma alternativa que eles acharam para que as pessoas que não se sentissem confortáveis ainda e não pudessem voltar a competir não fossem tão prejudicadas", explica Carol Meligeni, 402ª do ranking. Bia Haddad Maia, 286ª colocada, corrobora: "Não vai beneficiar ninguém e quem não puder jogar fica com os pontos congelados. É justo".

Presença sul-americana no conselho da ITF
Outro fator importante nos bastidores foi colocar uma atleta sul-americana no recém-criado conselho de jogadoras da Federação Internacional de Tênis (ITF). A escolhida foi a colombiana Yuliana Lizarazo, 335ª do ranking, após intensa movimentação das atletas do continente. "Criamos um grupo de jogadoras sul-americanas e, juntas, a gente escolheu uma de nós para que a maioria votasse na mesma pessoa e tivesse uma sul-americana lá. E a gente conseguiu a Yuli", explica Carol Meligeni.

"Ela sempre reporta para a gente os temas das reuniões da ITF, e também sempre pergunta se a gente tem alguma coisa para agregar. Ela está defendendo os nossos interesses. Foi bem importante a gente ter uma sul-americana, que passa pelos mesmos problemas de poucos torneios do que a gente", complementou a jogadora de 24 anos.

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Bia conta que se interessou pela vaga, mas não poderia se candidatar porque estava cumprindo suspensão. Ela ficou dez meses afastada das competições depois de testar positivo para duas substâncias proibidas em exame antidoping realizado em junho do ano passado. A brasileira comprovou que houve contaminação cruzada de um suplemento alimentar, o que evitou uma pena ainda mais longa, e foi autorizada a voltar a jogar no dia 22 de maio, mas a pandemia da Covid-19 acabou prolongando seu afastamento das quadras por mais dois meses.

"Na época, eu até queria concorrer, mas não podia por causa da suspensão. Mas a gente está sempre trocando ideias. A menina é muito ativa e é importante ter alguém mostrando a nossa realidade, que não dá para comparar com a realidade de fora", comenta a canhota paulista, que vinha treinando na cidade catarinense de Itajaí nas últimas semanas.

A ex-número 58 do mundo, aliás, deverá voltar ao circuito praticamente zerada no ranking e teria que jogar os menores torneios do circuito, que distribuem premiação de US$ 15 mil. "Se eu tiver que voltar, irei com os pés no chão. Qualquer torneio para mim é importante. Independente de ser um Grand Slam ou um 'future'. Eu gosto de jogar tênis e, então, a minha motivação não muda nada. Onde eu estiver, vou fazer o meu melhor".

Duas semanas de treinos em Portugal
As brasileiras embarcam no próximo domingo para Portugal, onde irão treinar por duas semanas como parte de um projeto do Comitê Olímpico Brasileiro. A princípio, a ideia será apenas de focar nos treinamentos, mas elas esperam que isso abra portas para disputar mais torneios no continente.

"A autorização que a gente tem é de ir para Portugal. Eu não sei como está a relação entre os países lá", disse Bia. "Estando lá, vamos ter mais chances porque aqui não tem torneio".  Carol complementa: "Vamos ficar lá isoladas. É claro que já estando na Europa fica mais fácil de tentar pensar em alguma coisa para depois, mas é muito incerto. A gente não sabe se vai poder se locomover por lá porque o cenário muda muito".

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