Apesar de já ter encerrado sua temporada no circuito há exatamente um mês, Marcelo Demoliner conviveu com um adversário implacável nas últimas semanas. O duplista de 31 anos foi diagnosticado com a Covid-19 quando voltou ao Brasil e relata ter desenvolvido todos os sintomas. Após o devido acompanhamento médico, conseguiu se recuperar e aos poucos retoma a rotina de treinos, mas revela que a doença comprometeu bastante seu condicionamento físico.
"Tive todos os sintomas possíveis. Passei uns perrengues, pelo menos três ou quatro dias com bastante sintomas. Muita dor no corpo, dor atrás dos olhos, dor de cabeça, tosse, dor no peito, febre, perda de paladar e do olfato. Então, eu tive todos os sintomas. Ainda bem que eu tinha bons amigos médicos em Caxias do Sul que me ajudaram muito e estavam ali sempre atentos comigo", disse Demoliner ao TenisBrasil.
"Percebi que o pulmão sofreu muito e que perdi muito condicionamento físico. Então esse vírus não é brincadeira. Acredito que a população está relaxando um pouco, e é por isso que estão aumentando esses casos. Então é preciso ter muito cuidado. Temos que esperar sair essa vacina para poder relaxar de fato", acrescentou o duplista gaúcho, atual 44º do ranking.
Parceria com González em 2021
Demoliner também fez um balanço da parceria que fez com o holandês Matwe Middelkoop. Juntos, eles conquistaram os ATPs 250 de Moscou no ano passado e Córdoba este ano, além de disputarem outras duas finais. O gaúcho de 31 anos revela que a decisão de desfazer a parceria partiu de Middelkoop.
"A gente estava numa crescente muito boa e se entrosando cada vez mais, estávamos entendendo o jogo de cada um. Foi uma decisão totalmente dele e acho que foi precipitada. Mas vejo que foi uma parceria de sucesso", explica o gaúcho, que jogará ao lado do mexicano Santiago González. Com isso retoma a dupla que rendeu a ele seu primeiro título de ATP, conquistado na grama de Antalya, em 2018.
Emoção ao falar da perda do avô
Também na reta final de 2020, Demoliner precisou conviver com uma situação muito delicada no plano familiar em razão da perda do avô, Raul Pedro, que lutava contra um câncer. "Ele era um cara excepcional, como se fosse um segundo pai para mim, e foi muito presente na nossa vida. Então, ter conseguido me despedir foi de extrema importância para depois eu seguir com a cabeça tranquila", disse Demoliner, que teve que voltar às pressas ao Brasil durante a semana do ATP 500 de Hamburgo.
"Consegui me energizar de uma maneira que pude voltar muito bem para o circuito, fiz mais uma final de ATP 500 depois disso. Obviamente sempre pensando nele, e ele vendo lá de cima. Tenho certeza de que ele vibrou comigo a cada momento".
Confira a entrevista com Marcelo Demoliner.
Como surgiu essa possibilidade de retomar a parceria com o Gonzalez? E como fica a definição do calendário, apesar de toda a indefinição que envolve o Australian Open?
Isso surgiu logo depois de Roland Garros, quando o Middelkoop quis parar com a parceria. Então, ali o pessoal já ficou sabendo e o González também estava saindo da parceria dele com o Ken Skupski. E como a gente já tem uma amizade muito boa fora da quadra, e tivemos bons resultados quando jogamos juntos, mesmo sendo por um período muito curto, a gente sempre deixou as portas abertas.
Foi mais por uma questão de ranking que a gente não conseguia entrar nos torneios juntos, mas sempre tivemos uma boa amizade e uma energia dentro da quadra. O fato de a gente falar espanhol também ajuda bastante. Então foi assim que retomamos as conversas. Estou bem empolgado porque o nosso jogo encaixa bastante, ele é um cara que devolve bem e tem bons voleios também. Acho que a gente se completa.
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Qual balanço que você faz dessa temporada e da parceria com o Middelkoop? Vocês conseguiram grandes resultados e conquistaram títulos. O quanto você aprendeu ao lado de um cara tão experiente e o que pesou na decisão de desfazer a parceria?
O balanço que eu fiz foi bem positivo. Eu achei que a gente estava numa crescente muito boa e se entrosando cada vez mais. Estávamos entendendo o jogo de cada um. Foi uma decisão totalmente dele e acho que foi precipitada. Tanto é que logo depois a gente fez uma final de ATP 500 [em São Petersburgo], mas isso faz parte.
A gente já está acostumado com isso no meio das duplas. Ele teve os motivos dele e eu respeito. Eu vejo que foi uma parceria de sucesso. Porém acabou agora, faz parte, e vamos para a próxima. Agora é bola pra frente e pensar 100% na minha parceria com o Santiago González para o começo do ano. A gente ainda não tem uma definição do calendário, em relação ao Australian Open e a data que vai ser. Se eles adiarem um pouquinho a data, não sei como seriam os torneios na América do Sul.
Como você avalia esse momento com os três brasileiros tendo novos parceiros para o ano que vem? O que acha dessa volta do Bruno com o Jamie e da escolha do Marcelo de jogar com o Rojer?
Coincidência de os três melhores duplistas estarem trocando de parceria para o ano que vem. A parceria do Bruno e do Jamie está voltando, que nem a minha e a do González. Acho que a gente vai ter uma certa vantagem, por já ter jogado junto e saber como jogar um com o outro. O Bruno jogou muito tempo com o Jamie e isso é uma vantagem para ele. Foi uma parceria de sucesso. E o Bruno vem numa crescente muito grande nesse último ano, com uma confiança muito grande. Acho que eles podem voltar a ter grandes resultados.
A parceria do Marcelo com o Rojer eu achei muito interessante. Acho que os dois podem se complementar muito. O Rojer é um cara muito bacana, do bem, e com uma energia excepcional dentro e fora da quadra. E acho que vai encaixar bastante essa dupla. Acredito que um dos dois vai ter que se adaptar para jogar no lado esquerdo, mas a partir do momento que eles se entrosarem, vai ser uma grande dupla. Desejo muito boa sorte aos dois times, para que a gente possa levar ainda mais o tênis brasileiro para o topo.
Quando você recebeu a notícia de que estava com Covid-19? Teve algum sintoma mais severo ou conseguiu se recuperar só cumprindo o isolamento o isolamento em casa, com o devido acompanhamento?
Tive todos os sintomas possíveis. Passei uns perrengues, pelo menos três ou quatro dias com bastante sintomas. Muita dor no corpo, dor atrás dos olhos, dor de cabeça, tosse, dor no peito, febre, perda de paladar e do olfato. Então eu tive todos os sintomas. Ainda bem que eu tinha bons amigos médicos em Caxias do Sul que me ajudaram muito e estavam ali sempre atentos comigo.
Fiz 15 dias de isolamento em casa, e depois desses dias com bastante sintomas eu comecei a ter uma boa melhora. Agora já estou 100% e voltei aos treinos essa semana. Percebi que o pulmão sofreu muito, perdi muito condicionamento físico. Então esse vírus não é brincadeira. Acredito que a população está relaxando um pouco, e é por isso que estão aumentando esses casos. Então é preciso ter muito cuidado. Temos que esperar sair essa vacina para poder relaxar de fato.
Você chegou a falar com os médicos sobre esse problema do pulmão? Teve alguma mudança nos treinos e acha que isso pode atrapalhar sua carreira no longo prazo?
Eu fiz tomografia duas vezes e não apareceu nada de comprometimento do pulmão. Eu recuperei rápido. Eu fiz essa tomografia nos dias que eu estava com os sintomas e também duas semanas depois, quando já estava curado e tinha saído da quarentena. Um médico amigo meu também me alertou que 15% dos atletas também estão desenvolvendo um probleminha que dá no coração, que pode ocasionar infarto, como um dos problemas a longo prazo do coronavírus. Eu também fiz um eletrocardiograma para ver como que estava. Chequei tudo. Eu fui super bem tratado aqui, estava sempre em contato com os médicos, principalmente com o negócio do pulmão, porque eu já tive asma e bronquite quando era pequeno. Então, eles quiseram me checar super bem e me deixaram super tranquilo.
A questão de eu ter voltado a treinar esses dias, com a resistência ainda baixa, eles disseram que é normal e que vai melhorando dia após dia. Quem sofreu também com isso e passou alguns dias assim foi o Dimitrov. Ele teve esse problema também, e depois de um mês e pouco já começou a se sentir melhor e se curou. Já está tudo bem.
No final desse ano, você viveu um momento familiar muito difícil. Teve até que voltar ao Brasil por alguns dias. O quanto foi importante estar ao lado das pessoas mais queridas naquele momento e o quanto isso te deu força para a reta final da temporada?
Pois é... Infelizmente o meu avô faleceu. Ele estava lutando contra o câncer e eu tive que voltar às pressas para poder me despedir dele. Foi muito bom ter dado o suporte para a minha família. Ele era um cara excepcional, como se fosse um segundo pai para mim, e foi muito presente na nossa vida. Então, ter conseguido me despedir foi de extrema importância para depois eu seguir com a cabeça tranquila. Porque faz parte. Graças a Deus foi na ordem correta da vida, e temos que seguir a diante. Eu consegui me energizar de uma maneira que pude voltar muito bem para o circuito, fiz mais uma final de ATP 500 depois disso. Obviamente sempre pensando nele, e ele vendo lá de cima. Tenho certeza de que ele vibrou comigo a cada momento.
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